Os participantes do Fórum Mundial da Água “oficial”, que acontece em um grande Parque de Exposições, e do alternativo, que reúne ecologistas, concordam que “apenas discutir sobre a crise da água não basta”, mas diferem nas soluções.
O VI Fórum Mundial da Água, organizado pelo Conselho Mundial da Água, criado pelas duas maiores transnacionais da água, e que contou com a participação de ministros e responsáveis pela água e Meio Ambiente de 140 países, teve como lema: “é hora de soluções”.
Isto foi repetido em quase todas as palestras, intervenções e mesas redondas neste fórum de seis dias, que teve início na segunda-feira com um alerta das Nações Unidas de que se nada for feito o planeta terá sede.
“Discutir sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na crise da água não é suficiente, chegou o momento de implementar soluções”, declarou o diretor da Comissão Nacional da Água do México (CONAGUA), José Luis Luege, que presidiu a mesa sobre “Água e Adaptação as Mudanças Climáticas”.
Esta mesa se concentrou “nas soluções que devem ser implementadas em nível global, regional, nacional e local”, para o “manejo sustentável da água em um contexto de mudanças climáticas”, enfatizando “a importância da governabilidade”.
Para o Fórum Alternativo Mundial da Água também não basta falar. “Nós divergimos nas soluções propostas para enfrentar o problema da água”, declarou à AFP Christiane Hansen, da Aquattac, uma “rede alterglobalização” centrada no problema da água.
“As grandes empresas por detrás do Fórum oficial procuram fazer negócios com a água, vendendo-a aos que podem pagar. Nós buscamos soluções para dar a água aos que precisam”, afirmou Jacques Cambon, um ex-engenheiro hidráulico da transnacional Suez, que agora trabalha com a Aquattac.
“As necessidades vitais da água foram estabelecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 20 litros por habitante e por dia. Essa quantidade deve ser gratuita. Tudo o que se consome a mais deve ser pago, e os que consomem mais, devem pagar mais”, ressaltou.
Por exemplo, “em Mombassa, na costa do Quênia, os habitantes precisam buscar água muito longe. A água serve, sobretudo, para piscinas e campos de golfe de grandes hotéis de luxo. Então são eles que devem pagar caro por esta água, assim seria possível levar a água à população”, propôs.
Cambon, um dos organizadores do Fórum Alternativo, realizado em um grande hangar perto do porto de Marselha, disse que o que interessa ao fórum oficial é promover “grandes projetos de água que exigem grandes recursos financeiros” e “uma gestão privada da água”.
Ao comentar à AFP que o VI Fórum também apresenta uma “Aldeia de soluções” com propostas simples e inovadoras para combater a crise de água e saneamento, como um filtro caseiro, o engenheiro respondeu que, “no entanto, não são estas as soluções propostas por países em desenvolvimento e emergentes”.
“O que estão vendendo são soluções modernas, que exigem muito investimento. As nossas soluções simples não são do interesse de suas empresas”, acrescentou.
Por trás da proposta dos ambientalistas para atender a crescente demanda por água doce e as mudanças climáticas, está a meta de “um outro modelo de desenvolvimento”, que evite o desperdício do precioso líquido e reduza os gases do efeito estufa.
“A agricultura responde por 70% do consumo de água no mundo. Mas qual é a agricultura que consome mais água? Não é a que serva para alimentar a população local, mas sim a agricultura industrial”, disse.
“Para reduzir a pressão sobre a água, deve-se mudar o modelo de desenvolvimento e não pensar na água como uma mercadoria, mas como um direito universal, tal como proclamada pela ONU em 2010″, concluiu.
Os dois fóruns terminaram no sábado: o alternativo com um grande show, e o oficial depois de adotar uma declaração ministerial em que os responsáveis governamentais se comprometam em fazer avançar as soluções para enfrentar a crise da água e do saneamento.
(Por Ana María Echeverría, AFP / Yahoo Notícias / EcoDebate, 19/03/2012)