O Fórum Alternativo Mundial da Água abriu suas portas nesta quarta-feira em Marselha com críticas à gestão pública da água e denúncias contra as grandes represas, como a de Jirau, no Brasil, que consideram “nefastas para as populações locais e para o ecossistema do planeta”.
Cerca de 2.500 ecologistas e defensores dos direitos humanos de todo o mundo se reuniram nesta cidade do sul da França para participar no FAME*, que é realizado paralelamente ao Fórum Mundial da Água, onde participam, sobretudo, responsáveis governamentais e líderes de grandes empresas da água.
O Fórum Alternativo Mundial da Água busca “avançar na implantação do direito humano à água a nível nacional e regional”, propondo “formas públicas na gestão da água que se contrapõem à privatização da gestão da água impulsionada pelo Fórum oficial”, anunciaram seus organizadores.
Antes da inauguração oficial do Fórum Alternativo, uma centena de ativistas demonstraram sua oposição a alguns dos grandes programas propostos no “Fórum oficial” para aliviar a pressão sobre a água doce, que está aumentando devido à mudança climática e ao aumento da população mundial.
Simulando um rio que representa a vida e uma grande represa inflável que inunda as terras e mata a população e o gado, uma centena de ativistas denunciou a construção de represas em um ato na estação central de metrô de Marselha, sul da França.
Os militantes das associações Ecologistas em Ação e Engenharia Sem Fronteiras explicaram que pretendiam chamar a atenção “sobre o impacto social e no ecossistema da construção de grandes reservatórios, como os que estão projetados na Patagônia chilena”.
Estas represas “são projetos extremamente caros, que inundam grandes extensões de terras cultivadas e bosques e significam a destruição irreversível de aldeias inteiras e dos meios de subsistência de milhares de pessoas”, explicou à AFP a espanhola Lidia Serrano.
“Além disso, não são projetos ‘verdes’, como dizem seus promotores, mas aceleram as mudanças climáticas”, acrescentou a ativista que participou do protesto, no qual militantes agitavam cartazes onde era possível ler: “A água, como a vida, não é uma mercadoria”.
O ato no centro de Marselha foi organizado por ocasião do “Dia mundial dos rios e contra as represas”, proclamado pela organização Amigos da Terra, e para coincidir com a abertura do Fórum Alternativo Mundial da Água, que reúne a sociedade civil com a meta de “debater e construir alternativas que deem soluções à crise da água”.
“É uma prévia do que vai ser debatido nos próximos três dias no FAME”, disse outro militante, que chamou a atenção sobre a represa de Jirau.
Essa represa, que está sendo construída pela GDF Suez (da qual o Estado francês é acionista em 36%) sobre o rio Madeira no Brasil, é um projeto “colossal, que ameaça várias comunidades locais e seus meios de subsistência”, disse o ativista dos Amigos da Terra.
“Em vez disso, existem outras técnicas que permitem produzir uma energia que responda às necessidades da população, como a energia solar térmica, geotérmica, eólica”, afirma a associação “Apenas um planeta”, presente em Marselha para o Fórum Alternativo da Água.
O FAME pediu a grandes instituições financeiras multilaterais, como o Banco Europeu de Investimento, para “reorientar seus investimentos em direção a alternativas que respeitem mais as pessoas e os ecossistemas”, em vez de “financiar grandes represas cuja produção está destinada, sobretudo, a fins industriais”.
Nota: FAME – Forum Alternatif Mondial de l’Eau
(AFP / Yahoo Notícias / EcoDebate, 16/03/2012)