Nação foi a única dos 27 estados membros do bloco a rejeitar plano para mitigação de carbono para além de 2020; especialistas atribuem decisão à dependência do país em combustíveis fósseis
“Vinte e seis membros querem que sigamos em frente com o roteiro de baixo carbono”, destacou Connie Hedegaard, comissária climática da União Europeia, tentando ver o lado positivo do veto da Polônia à ampliação das metas de emissões do bloco na última sexta-feira (9). A intenção da UE era estabelecer cortes de 40% até 2030, 60% até 2040 e 80% até 2050.
Essa não foi a primeira vez que a Polônia se opôs aos novos objetivos de mitigação de emissões do bloco: em junho de 2011, o país também vetou os planos da UE de aumentar a atual meta de 20% para 25%.
Mas apesar de os novos planos de limitação de carbono terem sido bloqueados pelos poloneses, alguns membros da Comissão Europeia e ministros do bloco viram o veto com certo otimismo, já que a Polônia foi o único país a não aprovar a resolução.
“Infelizmente, uma delegação vetou. Foi um dia difícil. Teria sido melhor se os 27 países tivessem embarcado, mas 26 é muito encorajador”, ponderou Martin Lidegaard, ministro do clima e energia da Dinamarca.
“Todos tentaram acomodar os diferentes anseios poloneses, mas no final eles bloquearam. A boa notícia é que a Polônia foi o único país a bloquear. Os outros 26 estados membros pediram explicitamente que a Comissão continuasse, e é isso o que faremos”, confirmou Hedegaard.
Para especialistas, a decisão da Polônia pode ser parcialmente explicada por sua dependência em combustíveis fósseis: segundo dados da própria nação, mais de 90% da sua geração de energia provêm do carvão.
De acordo com os poloneses, as metas do roteiro não permitiriam que cada país buscasse a sustentabilidade energética em seu próprio ritmo e que decidisse seu próprio mix de energia, o que poderia prejudicar os que, assim como a Polônia, são mais dependentes das fontes fósseis.
Além disso, o país alega que o período de tempo para os cortes de emissões propostos pelo roteiro é muito longo, o que faz com que o plano não seja totalmente confiável.
“O período do roteiro cobre muito tempo para fazer tais planos. Ele usa um instrumento de modelo diferente do que estamos usando... 94% de nossa energia elétrica vêm do carvão: é por isso que só podemos usar dados que são confiáveis”, comentou um porta-voz polonês.
A Aliança Europeia de Indústrias Intensivas em Energia apoiou a decisão da Polônia. “Estabelecer metas unilaterais mais ambiciosas para as emissões da UE para 2030 e 2040 e ignorar ao mesmo tempo os esforços de mitigação limitados – se existentes – que outros países estão preparados para fazer não ajudará os investimentos na UE”, observou a entidade.
Mas enquanto a Polônia continua combatendo o aumento das metas e sua extensão para além de 2020, representantes de outros países da União Europeia, como Ed Davey, secretário de energia e mudanças climáticas do Reino Unido, se mostraram dispostos a seguir com os planos da Comissão, alegando que, em longo prazo, tais medidas de mitigação podem trazer benefícios não só ambientais, mas também econômicos ao bloco.
“O resultado mostra como devemos redobrar nossos esforços para explicar à Polônia que mudar para uma economia de baixo carbono é parte de um crescimento em longo prazo na Europa. Não haverá pausa nos esforços do Reino Unido para estimular uma meta de emissões de 30% para 2020, fornecendo a certeza necessária que as empresas precisam para investir nas tecnologias verdes do futuro”, explicou Davey.
Além dos outros países da UE, o Parlamento Europeu e grupos ambientais também enfatizaram que a Polônia está perdendo uma grande oportunidade de crescimento com sua resistência à redução de carbono, além de estar prejudicando os outros países da União Europeia.
“A Polônia está adicionando à sua imagem uma economia ultrapassada e está atrasando o progresso para o continente inteiro”, afirmou Joris den Blanken, diretor de políticas climáticas do Greenpeace UE.
“A Polônia não está apenas retardando seu próprio país, mas também as aspirações e oportunidades de crescimento sustentável nos outros 26 estados membros”, corroborou Jo Leinen, do Partido Social-Democrata da Alemanha.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 12/03/2012)