O consumidor não admite levar sua própria bolsa para o supermercado. Quer a sacolinha e quer exercer o direito soberano de transformar o planeta em um depósito de lixo.
A lei que proíbe o uso de sacolas plásticas nos supermercados de São Paulo não pegou. Ou melhor, pegou, mas engasgou na arrancada, empacou, entrou água. Por duas vezes foi adiada. Corre o risco de não acontecer, morrer no papel.
É verdade…… essa lei não pegou – dirá você enquanto exerce seu direito de cidadão, na gôndola de um bom supermercado.
O Brasil consome 15 bilhões de sacolinhas por ano (Abras-2012). Vai quase tudo para aterros, córregos, riachos, oceanos e bueiros. Ajuda inclusive a aumentar o chamado “lixão do Pacífico”, a gosma de entulhos que boia, como uma gigantesca ilha errante, no litoral norte-americano, entre Califórnia e Havaí.
É uma ilha de meleca maior do que os estados de São Paulo e Minas Gerais juntos. Os americanos que se virem – dirá você, com uma indisfarçável pontinha de orgulho e de vingança, enquanto dispensa a sacolinha na primeira lata disponível. Ou joga na rua mesmo. Alguém que recolha, eu pago meus impostos.
Em São Paulo, a lei da sacolinha deveria ser aplicada a partir de 1º de janeiro. Deu-se um jeitinho. Depois, mudou para o dia do aniversário de São Paulo, 25 de janeiro. Deu-se um jeitinho.
Agora, passou para abril, depois de um “acordo” entre Procom, supermercados e Ministério Público. Abril? Não é melhor deixar isso pro segundo semestre? Afinal, aonde estão os meus direitos de consumidor?
A lei não pegou por causa da reação da classe média – ou da maioria dela, que não admite levar sua própria bolsa para trazer as compras. Também não quero pagar pela sacolinha – dirá você.
Chame um político de ladrão, de picareta e até de gay. Mas não o indisponha com a classe média. É o fim, olha o Collor.
Dezenas de países não usam mais a tal sacolinha. As pessoas levam uma bolsa. Quando esquecem a bolsa, pagam pela sacolinha. Simples assim. E ajudam a formar a consciência de cidadania necessária para desentupir o planeta de tanto lixo.
Aqui não pode. Temos os nossos direitos. Só nos anos 90, a humanidade aumentou seu nível de consumo em 28% (WWI-2010). Faz tempo que consumimos mais do que o planeta suporta.
Um dia vai pifar. Mas só mais pra frente, relaxa e goza. A regra é consumir. E não pensar, principalmente não pensar. Consumir sempre.
(Blog do Marques Casara, 12/03/2012)