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desastre de fukushima tsunamis usinas nucleares
2012-03-12 | Rodrigo

Em 11 de março de 2011, um enorme tsunami inundou a usina nuclear de Fukushima Daiichi no Japão, causando o pior desastre nuclear desde Chernobyl. Mais de 300 mil pessoas foram evacuadas, e um vasto trecho de terras permanecerá inutilizável por décadas. A limpeza poderá custar centenas de bilhões de dólares.

Sem causar surpresa, os críticos da energia nuclear aproveitaram o acidente para argumentar que, devido ao fato de a natureza ser imprevisível, a energia nuclear é simplesmente arriscada demais.

Um ano depois, entretanto, está ficando cada vez mais claro que a combinação de terremoto e tsunami que provocou o acidente de Fukushima não foi “ato de Deus” ou má sorte do Japão. Os riscos potenciais de tsunamis para as usinas nucleares são bem compreendidos, e uma série de padrões internacionais foi desenvolvida para minimizar esses riscos.

Mas, apesar do histórico de tsunamis do Japão, a Agência de Segurança Nuclear e Industrial, o órgão regulador nuclear japonês, não aplicou esses padrões. Ela fracassou em rever os estudos de riscos de tsunami realizados pela proprietária da usina, a Tokyo Electric Power, conhecida como Tepco. Ela também fracassou em assegurar o desenvolvimento de modelos de simulação de tsunami de acordo com os padrões internacionais.

A Tepco também foi negligente. Ela sabia da evidência geológica de que a região em torno da usina era periodicamente inundada, uma vez a cada mil anos. Em 2008, ela realizou simulações por computador sugerindo que uma repetição do terremoto devastador do ano 869 provocaria um tsunami que inundaria a usina. Mas ela não adotou adequadamente nenhuma medida baseada nesses estudos.

O maior risco que os tsunamis oferecem para as usinas nucleares é a destruição de seu fornecimento de energia. Sem eletricidade, um reator não pode ser resfriado e uma fusão pode ocorrer. Foi exatamente o que aconteceu em Fukushima. Um evento semelhante poderia ter ocorrido na França em dezembro de 1999, quando a usina nuclear de Blayais foi inundada.

Reconhecendo esse risco, os países europeus examinaram os projetos de suas usinas nucleares à procura de vulnerabilidades. Eles então equiparam suas usinas com fontes de eletricidade de emergência e as protegeram para suportarem melhor toda uma série de riscos extremos difíceis de prever.

A Tepco e a agência de segurança nuclear do Japão estavam bem cientes da experiência europeia. Fukushima teria sobrevivido se tivessem seguido o exemplo europeu e melhorado o projeto da usina. Resumindo, caso a Tepco e a agência de segurança nuclear tivessem seguido os padrões internacionais e as melhores práticas do setor, o acidente de Fukushima teria sido prevenido.

Olhando adiante, a questão óbvia é se outros países com energia nuclear aprenderam com os erros do Japão. Desde o acidente, o setor nuclear tem anunciado novos reatores com sistemas de segurança melhores, “passivos”, que podem fornecer resfriamento de emergência sem a necessidade de eletricidade. Apesar de novos reatores mais seguros serem bem-vindos, e quanto aos cerca de 440 reatores em funcionamento no mundo?

Nos Estados Unidos, onde quase um quarto desses reatores está localizado, o setor nuclear se concentrou em melhorar a gestão de acidente, isto é, em prevenir a fusão em uma usina onde os sistemas chave de segurança foram danificados por um desastre natural. Os donos de usinas estão melhorando os procedimentos desenvolvidos após o 11 de Setembro para frustrar um ataque terrorista contra uma usina nuclear.

Mas está menos claro se eles e a agência reguladora nuclear estão igualmente focados na importância crítica de um projeto robusto, em tornar as usinas menos vulneráveis a calamidades. Melhorias de um projeto podem ser caras. Mas melhorias de projeto e uma melhor gestão de acidente não são opcionais. Ambas melhoram a segurança. Ambas são necessárias.

Os países europeus reconheceram isso. Seus reguladores submeteram 124 reatores a “testes de estresse”. Eles confirmaram o valor das melhorias nos projetos das usinas encomendados após o incidente em Blayais.

Além disso, eles identificaram melhorias adicionais nas defesas físicas das usinas, necessárias para impedir que riscos externos inesperados causem danos sérios. A França exigirá que seus 58 reatores adotem melhorias que podem vir a custar US$ 10 bilhões.

Enquanto isso, a Europa tem lições importantes a aprender com os Estados Unidos. Por exemplo, a agência reguladora americana parece que pedirá um novo levantamento abrangente das ameaças externas enfrentadas por todas as usinas americanas. Apesar de alguns países europeus terem realizado recentemente esse exercício, outros ainda não o fizeram. Todos eles precisam agir.

Na análise final, entretanto, o debate em andamento sobre os esforços de segurança americanos e europeus depois de Fukushima é um testamento da relativa transparência de seus setores nucleares.

Em nenhum outro lugar com reatores nucleares - China, Índia e Rússia entre eles - é possível avaliar apropriadamente os pontos fortes e fracos de suas abordagens para melhorar a segurança desde o acidente. Essa opacidade caracterizou historicamente o setor nuclear do Japão. Se os países levam a sério o aprendizado das lições de Fukushima, eles precisam começar a abrir seus programas nucleares para escrutínio externo.

(Por James M. Acton e Mark Hibbs, International Herald Tribune / UOL / IHU On-Line, 10/03/2012)


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