Pesquisador da UFRGS diz que 19 dos 33 projetos mantidos não foram afetados pelo incêndio
O prejuízo material causado pelo incêndio de sábado na Estação Comandante Ferraz às pesquisas feitas por cientistas brasileiros na Antártica pode ser menor do que o avaliado inicialmente, na avaliação do governo federal.
— A perda é menor que nós imaginávamos — disse o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Afonso Nobre.
Nesta quinta, em Brasília, representantes do ministério se reuniram com coordenadores de projetos de científicos para avaliar o andamento das pesquisas na Antártica. Os pesquisadores apresentaram seis tópicos que deverão ser de detalhados, entre eles, a contabilização de perdas, a situação dos laboratórios na estação, a reposição de equipamentos e a manutenção de bolsas dos pesquisadores.
De acordo com o geólogo Jefferson Simões, diretor do Centro Polar Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e delegado brasileiro no Comitê Científico Internacional de Pesquisa na Antártica, 19 dos 33 projetos mantidos não foram afetados em nada, e os dados perdidos nas áreas atingidas pelo incêndio dizem respeito aos anos de 2011 e 2012. O Brasil faz pesquisas na área há 27 anos.
Há projetos de pesquisa em estação remota no interior da Antártica (para monitoramento climático), em navio (pesquisa oceanográfica), em acampamentos (pesquisas geológicas) e em uma ilha a 200 quilômetros da estação (pesquisa sobre biodiversidade).
— Diferentemente do que foi anunciado, nenhum projeto parou — afirmou Simões, ao lembrar que os dados e materiais colhidos, assim como as informações transmitidas por satélite, são analisados em laboratórios com sede nas universidades e institutos de pesquisa do Brasil.
Também participam da reunião pesquisadores ligados às universidades Federal do Rio de Janeiro, Estadual do Rio de Janeiro, de Brasília, de São Paulo e Federal do Rio Grande, além de representantes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
No início da reunião, os pesquisadores fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos militares da Marinha mortos no incêndio na Antártica, Carlos Alberto Vieira Figueiredo e Roberto Lopes dos Santos, que foram promovidos postumamente a segundo-tenente.
Na próxima terça-feira, às 8h30, Jefferson Simões participará de audiência pública no Senado sobre a Estação Comandante Ferraz. Também estarão presentes os ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, e da Defesa, Celso Amorim, e o comandante da Marinha, Júlio Soares de Moura Neto.
Perdas de R$ 40 milhões
Serão necessários pelo menos R$ 40 milhões para medidas emergenciais na Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída por um incêndio no fim de semana passado, de acordo com estimativa feita por deputados e senadores em reunião da Frente Parlamentar Proantar (Programa Antártico Brasileiro) realizada na quarta-feira.
De acordo com os parlamentares, o valor de R$ 40 milhões leva em conta apenas a remoção de entulhos do incêndio e a implantação de módulos para manter as pesquisas no local. Ou seja, a conta não incluiria a reconstrução da base.
— Esse critério extraordinário corresponde apenas às medidas emergenciais para a manutenção mínima da pesquisa. Chegamos a esse valor por meio de conversas com especialistas — disse a deputada Jô Moraes (PC do B-MG).
A ideia, diz a deputada, é o governo apresentar uma medida provisória que contemple esses recursos. Por enquanto, a matéria ainda não chegou à Secretaria de Relações Institucionais. Durante a reunião, os parlamentares também se comprometeram a apresentar emendas de R$ 500 mil ao Proantar.
Sem ajuda internacional o Brasil não terá como remover até o final do ano os destroços da estação, já que em março começa o inverno na região.
(Diario.com.br, 01/03/2012)