Cientistas norte-americanos enfatizam a existência de uma ressurgência em torno do continente antártico, que pode ter efeitos significativos e impactos adversos em caso de mudanças climáticas
Muito se ouve falar sobre os impactos do aquecimento global no Ártico e, especialmente, dos efeitos que isto pode causar no restante do mundo devido ao derretimento de enormes quantidades de gelo. Agora, pesquisadores resolveram olhar com mais cuidado para o continente antártico e o papel do fenômeno da ressurgência* sobre a variabilidade climática.
A ressurgência no oceano meridional é de grande importância para a compreensão do clima, já que controla a taxa na qual os reservatórios oceânicos de calor e carbono se comunicam com a superfície.
Percebendo este fato, cientistas elaboraram um modelo atualizado da sua circulação, demonstrando como os ventos fortes que sopram ao longo da Corrente Circumpolar Antártica trazem à tona as águas profundas.
Há décadas um modelo desenvolvido pelo paleoclimatologista Wallace Broecker descreve a circulação oceânica (vídeo), sendo que considera que após mergulhar no Atlântico Norte, uma corrente fria se dirige ao sul até a Antártica, onde ruma novamente para norte, subindo no Pacífico.
Entretanto, evidências têm mostrado que as águas frias sobem para a superfície no oceano meridional, distinção que Mashall e Speer colocam em seu novo diagrama. Eles sugerem que o oceano meridional pode ter influenciado o degelo do planeta no fim da última Era Glacial.
Apesar de ainda não estar claro o que causou o aquecimento naquela época, o aumento da temperatura pode ter mudado os padrões de vento em direção aos pólos, puxando para a superfície água das profundezas e carbono, que teria sido liberado para a atmosfera, aquecendo ainda mais o clima.
“Existem grandes reservatórios de carbono no interior dos oceanos”, comentou Marshall. “Se o clima mudar e tornar mais fácil a liberação daquele carbono para a atmosfera, então haverá um efeito de aquecimento adicional”.
Além da direção dos ventos modificada pela temperatura na Terra, os cientistas acrescentam que duas tendências ligadas às atividades humanas, o buraco na camada de ozônio e a emissão de gases do efeito estufa, têm efeito sobre os ventos no oceano meridional e podem mexer no delicado equilíbrio em jogo.
Se o oceano meridional tiver um deslocamento dos ventos fortes levemente mais para o sul do que a posição atual, as placas de gelo da Antártica podem ficar mais vulneráveis ao derretimento - um fenômeno que também pode ter contribuído para o fim da Era Glacial, segundo o MIT.
John Sarmiento, professor de ciências atmosféricas e oceânicas da Universidade de Princeton, comentou que o oceano meridional tem sido uma área difícil de estudar, exigindo modelagens com alta resolução – um desafio, dada a vastidão dos oceanos.
Marshall e Speer agora estão trabalhando com a Instituição Oceanográfica Woods Hole para mensurar como ocorre a ressurgência no oceano meridional.
“Qualquer perturbação feita na atmosfera, devido aos ciclos glaciais ou pressão sobre o ozônio ou efeito estufa, pode mudar o seu equilíbrio”, disseram os autores.
* A ressurgência é um fenômeno físico que ocorre em determinados pontos do oceano nos quais águas profundas e geralmente mais frias emergem trazendo muitos nutrientes.
(Por Fernanda B. Müller, Instituto CarbonoBrasil, 02/03/2012)