O editor Duncan Clark utilizou dados da Revisão Estatística da Energia Mundial da BP para calcular quanto CO2 cada país tem a possibilidade de emitir e como isso influencia na posição das nações sobre um acordo climático
Muitas vezes, a demora no progresso das negociações climáticas nos faz perguntar por que as lideranças mundiais estão demorando tanto para combater as emissões de gases do efeito estufa (GEEs), que contribuem para as mudanças climáticas.
Pensando nessa relação, o editor de meio ambiente do jornal The Guardian, Duncan Clark, utilizou os dados da Revisão Estatística da Energia Mundial da BP para calcular quanto de GEEs cada país pode emitir, e traçou uma relação entre as reservas de combustíveis fósseis das nações e suas posições a respeito de acordos climáticos.
Clark exemplificou sua análise com o caso das negociações climáticas da 17ª Conferência das Partes (COP17), que ocorreu no final de 2011 em Durban, na África do Sul: quem defendeu mais fortemente a extensão do Protocolo de Quioto e criação de um novo acordo mundial foram a União Europeia, a África e a Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS), que, segundo o editor, têm juntas menos de 14% das reservas de combustíveis fósseis mundiais.
Analisando a posição oposta, Clark também chegou a resultados semelhantes: a Arábia Saudita, o Canadá, a China, os EUA, a Índia e a Rússia, que juntos detêm quase 60% de todas as reservas mundiais de combustíveis fósseis, frequentemente se posicionam, em maior ou menor grau, contra acordos climáticos globais.
O Canadá, por exemplo, anunciou recentemente sua retirada do Protocolo de Quioto, enquanto a China e os EUA, os maiores emissões de GEEs do mundo, nunca fizeram parte do tratado.
Mesmo em escala regional, parece haver ligação entre as duas situações: enquanto a maioria dos países da América Latina se mostra favorável a um pacto climático mundial, a Venezuela, que detém grandes reservas de petróleo e areia betuminosa, se posicionou contra um acordo e entrou em confronto com a presidência da ONU, alegando que os países emergentes estavam sendo ‘negociados’ nos debates climáticos.
O editor do The Guardian ressaltou que sua análise não é científica e que há casos em que a relação entre reservas de combustíveis fósseis e posicionamento climático não se concretiza, mas lembrou que é interessante ponderar a questão sobre esse ponto de vista, para que talvez se possa entender melhor o andamento das negociações climáticas.
Leia a íntegra da análise (inglês) aqui.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 17/02/2012)