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influenza gripe biossegurança saúde pública
2012-02-20 | Rodrigo

Trabalhos explicam como vírus poderia se tornar transmissível a mamíferos. Especialistas em biossegurança temem que dados parem em "mãos erradas".

Dois estudos mostrando as mutações necessárias para que o vírus H5N1, da gripe aviária, se espalhe entre mamíferos só serão divulgados depois que especialistas avaliarem completamente seus riscos, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira (17).

Falando após uma reunião de especialistas em gripe e de autoridades de segurança dos Estados Unidos em Genebra, um funcionário da OMS disse que um acordo foi alcançado para em princípio manter em sigilo os detalhes dos polêmicos trabalhos até uma revisão mais profunda dos riscos.

"Há uma preferência da perspectiva da saúde pública pela plena divulgação da informação nesses dois estudos. No entanto, há preocupações públicas significativas cercando essa pesquisa e que devem ser atendidas em primeiro lugar", disse Keiji Fukuda, diretor-geral-assistente da OMS para segurança da saúde e meio ambiente.

A OMS convocou a reunião para tentar superar o impasse entre cientistas que estudam as mutações necessárias para tornar o vírus aviário H5N1 transmissível entre mamíferos, e o Conselho Consultivo Científico Nacional para a Biossegurança (NSABB, na sigla em inglês), que deseja censurar o trabalho antes da sua publicação em revistas científicas.

Especialistas em biossegurança temem que as formas de vírus mutante criadas independentemente por equipes da Holanda e dos EUA possam cair em mãos erradas, sendo usadas para iniciar uma pandemia pior do que a da chamada gripe espanhola, que matou até 40 milhões de pessoas em 1918-19.

Gregory Hartl, porta-voz da OMS, disse que, por causa desses temores, "deve haver uma discussão muito mais completa sobre os riscos e benefícios de pesquisas nessa área do que sobre os ricos do vírus em si". Mas um cientista próximo à NSABB disse à Reuters, sob anonimato, que o conselho ficou profundamente "frustrado" com a decisão.

O único representante da NSABB na reunião foi o infectologista Paul Keim, da Universidade do Norte do Arizona. "Foi uma reunião a portas fechadas, dominada pelo pessoal da gripe, que tem um interesse velado em continuar esse tipo de trabalho", disse a fonte.

A OMS disse que a reunião teve a presença de pesquisadores envolvidos nos dois estudos, de revistas científicas interessadas em publicá-las, de financiadores da pesquisa, de países que forneceram os vírus, de especialistas em bioética e de diretores de vários laboratórios ligados à OMS que pesquisam a gripe.

O H5N1, detectado pela primeira vez em 1997 em Hong Kong, é comum em criações avícolas de vários países, principalmente na Ásia, mas raramente contamina humanos. Desde 2003, há registro de 600 casos em pessoas, metade das quais morreram, índice de mortalidade muito superior à do vírus H1N1, da gripe suína, que causou a pandemia de gripe em 2009-10.

No ano passado, duas equipes científicas, uma comandada por Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, e a outra de Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin, disseram ter descoberto que bastam algumas poucas mutações para que o H5N1 se espalhe como uma gripe normal entre mamíferos, mantendo sua letalidade atual.

Em dezembro, o NSABB pediu às revistas "Nature" e "Science que não" divulgassem detalhes do trabalho, para evitar seu uso por bioterroristas. Esse tipo de pesquisa, no entanto, é crucial para o desenvolvimento de vacinas.

(Reuters / G1, 17/02/2012)


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