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amianto eternit saúde e segurança no trabalho
2012-02-20 | Rodrigo

A raiva do trabalhador de macacão azul: "Nos enganaram durante anos. Tenho asbestose há 20 anos, me falta o ar e uso a bomba de oxigênio. Esse dinheiro não vai me ajudar a viver mais".

Mesmo que viva em Casale Monferrato há mais de meio século, Pietro Condello, 66 anos, continua falando com o sotaque da sua Messina. De 66 audiências, não perdeu nenhuma, sabe bem que aquele macacão, azul escuro com a palavra Eternit bordada em amarelo no peito, atrai as câmeras e os fotógrafos. Mas ele não se importa, e não é por isso que a usa, mas sim para lembrar os seus companheiros que não podem mais vesti-lo: dos 30 operários da repartição de "Matérias-primas", só dois estão vivos, e ele é um deles.

Enquanto o juiz Giuseppe Casalbore lia a interminável sentença com a qual o povo italiano fazia justiça aos mortos de Casale, Pietro Condello estava dignamente apoiado em uma balaustrada, muito perto do júri popular. E, às vezes, mas só às vezes, passava sobre os olhos e sobre o rosto um lenço branco dobrado em quatro, daqueles de tecido que ninguém mais usa.

Eis a entrevista.

La Repubblica - Senhor Condello, está contente com essa sentença?
Pietro Condello - Contente? Não. É justa, a pena está certa, mas não há satisfação para nós. Não há dinheiro, e nem prisão, que possa pagar por aqueles que morreram. Se não os condenassem, então me sentiria humilhado. Não estou humilhado e não estou contente.

O senhor sofre de asbestose. Pode explicar o que isso significa?
Condello - Significa que eu tive mais sorte do que aqueles que morreram de mesotelioma. Significa que eu tenho uma invalidez crônica de 38%. Há 20 anos, me falta o ar, muitas vezes tenho que me conectar à bomba de oxigênio, todas noites eu durmo com três travesseiros atrás das costas, senão me sinto sufocado. Alguns dias por ano, vou para Varazze, na Ligúria, o médico diz que esse ar me faz bem, mas depois eu sempre volto para Casale. Lá estão os meus filhos, não posso ir embora.

Agora, com 35 mil euros de ressarcimento, o senhor poderá ir mais ao mar...
Condello - Não sei. Se os meus filhos estiverem de acordo, iremos mais. Mas 35 mil euros não são nada para quem está doente como eu. Eu só posso esperar morrer o mais tarde possível.

O que o senhor fazia na Eternit?
Condello - Eu entrei em 1966 e fiquei lá por 24 anos. Eu era carregador: descarregava do trem que parava lá perto os sacos cheios de amianto azul [a mortal crocidolita, importada do Leste Europeu, cujos efeitos cancerígenos já eram conhecidos nos anos 1960] e os carregava nas costas, 30 quilos. Cada um de nós tinha uma faca. Quando chegávamos perto da esteira, jogávamos os sacos em cima, os cortávamos e ela os levava aos operários e aos maquinários que trabalhavam o amianto.

O que lhe provoca mais raiva?
Condello - Quem me contratou, uma pessoa que eu conhecia. Ele já sabia que o amianto fazia com que as pessoas morressem, mas não me disse nada. Uma vez por ano, nos mandavam fazer exames de raio-X, a todos, mas não era algo bem feito, era uma piada. Se você tentasse protestar, lhe mandavam ao "Kremlin", a repartição de punição. Mas foi justamente quando eu entrei na fábrica que começou a luta. Pouco a pouco, começamos a entender que devíamos nos defender.

Por que o senhor vai ao tribunal com seu macacão? Não tem vontade de jogá-lo fora?
Condello - Não posso me esquecer dele. Fui com esta roupa até para Paris, a um encontro com outros operários que haviam trabalhado com o amianto. É inútil tirá-lo. É melhor vesti-lo por aqueles que não podem mais fazer isso. Algumas vezes, minha mulher a lavou e a passou.

O que o senhor se lembra dos seus colegas que já morreram?
Condello - Acompanhamos o último ao cemitério há oito dias. Eu estive muito nos hospitais, um pouco para as minhas visitas, um pouco para ir encontrar aqueles que morriam. Depois, deixei de ir vê-los, era terrível. Enquanto o juiz lia os seus nomes, eu os lembrei dentro de mim, todos aqueles que eu conseguia.

O que lhe parece mais injusto?
Condello - Primeiro, que tenham morrido tantas pessoas que jamais haviam trabalhado na fábrica. Não é que seja justo que os operários morram, não nos diziam a verdade. Mas quem morreu porque havia lavado um macacão ou respirado o ar sujo que existe em Casale, e ainda haverá por 40 anos, isso é ainda mais injusto. Em segundo lugar, o prefeito de Casale pensou em ganhar 18 milhões de euros em troca dos mortos. É uma velhacaria, ele não devia pensar nisso.

* * *

Enquanto isso, o prefeito, George Demezzi, renunciou a esse dinheiro. Mas Pietro Condello acha que isso é o mínimo que ele podia ter feito e não lhe perdoa por sequer ter imaginado isso.

(Por Vera Schiavazzi, com tradução de Moisés Sbardelotto, La Repubblica / IHU On-Line, 14/02/2012)


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