No Paraguai, a tensão entre colonos brasileiros, chamados de brasiguaios, e os sem-terra do país, conhecidos como carperos, aumentou. Para os carperos, os brasileiros devem ser retirados da região e suas terras têm que ser desocupadas. Vários carperos estão acampados em uma faixa de terra de 7 quilômetros de extensão, em uma localidade onde há fazendas cultivadas por brasileiros, em Nancundae, em Alto Paraná (a 70 quilômetros de Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil).
Nos últimos dois dias, os carperos avançaram 14 quilômetros na área de Nancundae. A ideia, segundo os líderes do movimento, é intensificar a ocupação e pressionar os brasiguaios a deixar a região. “Vamos seguir adiante por mais pelo menos outros 20 quilômetros”, disse à Agência Brasil o carpero Alfredo Alquino, de 23 anos.
O significado da palavra carpa é tenda. Os carperos querem que o governo do presidente Fernando Lugo exproprie as terras, adquiridas por colonos brasileiros nas últimas cinco décadas. Líderes do movimento dizem que o alvo é o fazendeiro Tranquilo Favero, brasileiro naturalizado paraguaio há 40 anos.
Considerado um dos homens mais ricos do Paraguai e apelidado de Rei da Soja, Favero é dono de fazendas e empresas agrícolas. Para os sem-terra paraguaios, o empresário construiu seu patrimônio adquirindo terras públicas a preços considerados irrisórios e de forma irregular.
“Os títulos de terra dele são falsos”, disse à Agência Brasil Vitoriano Lopez, um dos líderes do movimento dos carperos.
Lopes disse que tanto Favero quanto vários colonos brasileiros foram beneficiados durante o governo do general Alfredo Stroessner (1954-1989), uma das ditaduras mais longas da América Latina. “Não importa que [esses brasileiros] tenham vivido aqui durante décadas. O usucapião não vale para as terras públicas, que nunca deveriam ter sido vendidas, em primeiro lugar”, disse o carpero.
A estimativa da Embaixada do Brasil no Paraguai é que cerca de 350 mil brasileiros vivam em território paraguaio, sendo que a maioria é formada por agricultores. Os conflitos envolvem principalmente 167 mil hectares de terras. Essas áreas, segundo os carperos, foram vendidas a partir do século 19.
Desde o final do mês passado, os conflitos entre brasiguaios e os carperos se intensificaram. De acordo com os brasileiros, a ameaça de expulsão pelos sem-terra levou à perda de aproximadamente 50% da colheita de soja devido à seca e às dúvidas dos produtores, que não sabem se devem continuar investindo em terras.
“Estamos vivendo uma situação de insegurança judicial e física”, disse à Agência Brasil a advogada brasileira Marilene Squarizi.
Filha de colonos, ela é assessora da União de Cooperativas de Agricultores do Paraguai. De acordo com Marelene, 98% dos membros da entidade têm origem brasileira. “Notamos que no governo do presidente Fernando Lugo houve uma mudança de política. Conseguimos com a Justiça ordens para desocupar as terras invadidas, mas o governo demora em executá-las”, disse.
No dia 27, Marilene Squarizi estará em Brasília, para prestar esclarecimentos a parlamentares no Congresso Nacional sobre a situação dos colonos brasileiros no Paraguai. Ontem (16) uma comissão da parlamentares paraguaios viajou até Nancundae para ouvir as queixas dos colonos brasileiros.
“Estamos preocupados porque a situação está piorando. Os carperos agora estão avançando e o governo não esta dando uma solução”, disse à Agência Brasil o presidente do Partido Pátria Querida, senador Roberto Campos. “Vamos levar esse tema à primeira reunião do Parlamento do Mercosul”, disse ele.
(Por Monica Yanakiew, com colaboração de Renata Giraldi e edição de Juliana Andrade, Agência Brasil, 17/02/2012)