Sanitarista trata desde 1979 de pacientes com câncer atribuído à exposição ao produto
Presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) soltaram nota hoje repudiando a interpelação judicial que o Instituto Brasileiro de Crisotila (um tipo de amianto) impetrou contra o médico sanitarista Hermano de Castro, que desde 1979 acompanha doentes pela exposição à fibra cancerígena.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) protestaram hoje contra a interpelação judicial sofrida pelo médico sanitarista da Fiocruz Hermano Albuquerque de Castro pelo Instituto Brasileiro de Crisotila, que reúne a indústria do amianto e entidades que defendem o uso da fibra no Brasil.
O médico, que desde 1979 acompanha doentes pela exposição à fibra cancerígena, está obrigado a prestar esclarecimento sobre declarações de que há risco ambiental no uso da fibra cancerígena e a explicar como chegou ao número de 2.400 mortes por mesotelioma (câncer ligado à exposição ao amianto). A medida antecipa uma ação judicial.
A Fiocruz protesta contra a "judicialização de um debate que está baseado em evidência técnico-científicas e lamenta a tentativa de intimidação".
A nota da Fundação, diz que "o pesquisador Hermano Albuquerque de Castro, que tem 30 dias para responder à interpelação judicial, goza da confiança e do respeito da Presidência e da comunidade da Fiocruz pela sua competência técnico-científica, postura ética e compromisso social, tendo ocupado posições de direção e de representação institucional que o qualificam como profissional de referência na saúde pública e, especificamente, no campo da saúde do trabalhador e da pneumologia. A Fundação presta solidariedade a Hermano Albuquerque de Castro e lamenta a tentativa de intimidação e de se criar barreiras à liberdade de expressão e de pesquisa científica"
Logo depois foi a vez do Inca. Segundo nota do instituto, Castro é "renomado especialista brasileiro que vem estudando a questão dos malefícios do amianto com afinco, junto a outros pesquisadores da área de saúde do trabalhador e ambiental". Segundo o Inca, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) da Organização Mundial de Saúde classifica todas as formas de amianto branco, marrom ou azul como agente reconhecidamente cancerígeno.
" A exposição ao amianto está diretamente associada ao desenvolvimento de mesotelioma (um tipo de câncer raro, que se origina na pleura, peritôneo ou pericárdio) e câncer de pulmão, laringe e ovário. Ainda de acordo com a IARC a exposição a todas as formas de amianto também está associada ao desenvolvimento de câncer de faringe, estômago e colo-retal. No Brasil, dados oriundos dos Registros de Câncer de Base Populacional (20 capitais) revelam que no período entre 1999 a 2005, foram identificados 134 casos de mesotelioma (76 homens e 58 mulheres).
O Inca, na nota, reitera "o apoio ao médico sanitarista, em defesa do total banimento do amianto no país".
O advogado do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC), Antonio José Telles de Vasconcellos, diz que o objetivo da interpelação judicial é que o pesquisador mostre em quais estudos se baseou para dizer que o "transporte, comércio, uso e instalação e descarte de produtos contendo amianto oferece risco à saúde".
- Queremos saber também de onde ele tirou os 2.400 mortos por mesotelioma de 1980 a 2003. O mesotelioma não necessariamente causado por amianto. Pesquisa feita pela Unicamp com 2 mil famílias que usam telhas de amianto não mostrou problemas pulmonares [Nota do Ambiente JÁ: essa pesquisa foi feita por médicos ligados à indústria do amianto].
O advogado afirma que ainda não é certo que seja proposta uma ação judicial.
(Por Cássia Almeida, O Globo, 09/02/2012)