Relatório diz que Grupo André Maggi tornou-se "amigo do verde". Grandes fundos de investimento pressionam para que empresas se enquadrem em critérios ambientais
Um grupo formado por alguns dos maiores fundos de investimento do mundo reconheceu o trabalho socioambiental do Grupo André Maggi, maior produtor individual de soja do planeta e antigo alvo do Greenpeace.
O reconhecimento ocorre em um contexto de pressão dos fundos de investimento sobre empresas globais para que reduzam ao máximo sua "pegada florestal", sob pena de perda de investimentos.
Antes de decidirem onde aplicar, esses fundos agora querem saber o grau de exposição das grandes companhias a cinco tipos de commodities: soja, óleo de palma, madeira, artigos derivados da pecuária e biocombustíveis -tanto na produção como na cadeia de suprimentos.
Setenta dos maiores fundos de investimento, que administram juntos US$ 7 trilhões, contam com um "guia" que monitora os maiores grupos globais, conhecido como Forest Footprint Disclosure (FFD) e usado como referência por instituições do porte do Barclays Capital.
No ano passado, a Lingui Developments, da Malásia, por exemplo, foi cortada da carteira de investimentos do fundo de pensão dos funcionários do governo da Noruega. Motivo: não se enquadrava aos critérios socioambientais definidos pelo fundo.
A Folha teve acesso exclusivo à terceira edição do relatório, que será divulgado mundialmente hoje.
Brasil em destaque
Das 357 empresas que receberam a solicitação do FFD para revelar suas práticas em relação às florestas, somente 87 aceitaram. No Brasil, entre as 18 convidadas, somente 5 foram analisadas.
Pela primeira vez, uma companhia brasileira chegou à liderança em seu setor: o Grupo André Maggi. Em 2006, a empresa foi alvo de uma campanha do Greenpeace, que a acusou de estimular o desmatamento na Amazônia à medida que aumentava sua produção para garantir as vendas aos países da Europa.
Desde então, investiu em obter uma certificação internacional para a produção. Em junho de 2011, fechou o primeiro contrato, embarcando 85 mil toneladas de grãos certificados para a Holanda.
"Esse certificado é a confirmação de nosso compromisso com uma produção responsável", disse Waldemir Ival Loto, presidente do Grupo André Maggi. Segundo ele, o primeiro passo foi dado em 2007, com uma fazenda.
O "grau de investimento" dos fundos não significa que a empresa seja totalmente "verde". Garante apenas que ela está empenhada e aberta a monitoramentos externos.
"Esse relatório é diferente de muitas iniciativas que representam mera maquiagem verde", diz Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, integrante desse projeto. "Ele não divulga boas ações ao público, e sim informação operacional, padronizada e comparável para os investidores."
Apesar de ainda não estarem na liderança mundial em seus setores, Natura, Marfrig, JBS e Fibria tiveram destaque. Recusaram-se a responder: Cikel, Irani, Brazil Foods, Arantes Alimentos, Caramuru, Coamo, Frigorífico Mercosul, Imcopa, Independência, Margen, Minerva e Petrobras.
(Por Julio Wiziack, Folha de S. Paulo, 07/02/2012)