Zero Hora completa nessa terça-feira uma semana de silêncio sobre o vazamento de óleo no litoral do Rio Grande do Sul. Há 11 dias o vazamento em uma monoboia da Transpetro, na praia de Tramandaí, era capa do principal jornal gaúcho. Em toda a cobertura, apenas um pequeno texto de cinco parágrafos abordou o tema dos danos à fauna, e os prejuízos aos pescadores não foi sequer citado.
O sensacionalismo foi a tônica dos primeiros dias de cobertura, quando o mar estava impróprio para banho. Passado o momento em que os leitores estavam impedidos de banhar-se no mar, Zero Hora simplesmente abandonou o assunto. Em nenhum momento houve aprofundamento, preocupação com o meio ambiente ou com as pessoas que precisam do mar para trabalhar. Afinal de contas, peixes, aves e pescadores não compram Zero Hora.
O foco de todas as matérias do jornal foi o prejuízo aos banhistas, o que sem dúvida alguma é, para qualquer cidadão consciente, o menor problema de um vazamento de petróleo. A mortandade de animais torna-se inevitável, e nenhuma atenção tem sido dada a esse problema.
Não é tão “sensacional” quanto assustar o leitor com os riscos que este pode correr ao entrar no mar. Assim como não é tão “sensacional”, tão apelativo para a classe média alienada leitora assídua e anunciante de Zero Hora, o desespero dos pescadores, há dias impedidos de trabalhar por seu sustento.
Como disse, em entrevista ao Sul 21, o coordenador do Fórum da Pesca do Litoral Norte, Valdomiro Hoffmann, “nunca falam dos pescadores, que são os principais prejudicados, que dependem disso para sobreviver. Chegamos a ouvir piadas ofensivas, como: para os pescadores está bom, é só levar a frigideira que já tem peixe e óleo na praia”.
Neste quadro, demonstramos esta despreocupação de Zero Hora com o interesse público e seu objetivo único de dramatizar o caso, em detrimento da informação precisa e aprofundada. Quando os banhistas deixaram de ser diretamente afetados, o jornal perdeu totalmente o interesse pelo assunto. Os danos – do derramamento de petróleo e da desinformação – continuam enfileirando-se.
(Por Alexandre Haubrich, Jornalismo B, 06/02/2012)