Lentamente a Vale está avançando seus investimentos no Espírito Santo. A informação divulgada pelo jornal A Tribuna, é que a empresa adquiriu um terreno de mil hectares, junto à rodovia ES-060 e ES-487 para construir uma siderúrgica. A medida segundo ambientalistas, é sinal de um desmembramento do antigo projeto da Vale para a construção de uma siderúrgica no sul, em parceria com a Baosteel.
Eles explicam que, após ter tido o projeto da gigante Baosteel negado pelo governo do Estado, a Vale licencia a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), em Anchieta, sul do Estado e vem ocupando áreas em Itapemirim, também para a construção de uma siderúrgica. Desta forma a empresa ocupará a mesma área prevista pela antiga Baosteel.
A intenção da Vale de construir uma siderúrgica em Itapemirim foi anunciada em 2009, pelo então presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Lucas Izoton, após a divulgação de que, através de um decreto-lei, o município havia desapropriado uma área de 500 alqueires (cerca de 2,4 milhões de metros quadrados).
Visto que o processo da CSU é marcado por atropelos e inúmeras contestações judiciais, a notícia não é boa para os ambientalistas. A previsão é que com ambas as siderúrgicas e a produção da siderúrgica da Ferrous, em Presidente Kennedy, o Espírito Santo poderá quadriplicar sua produção e, consequentemente, a poluição atmosférica no Estado.
Entre outros impactos pontuados por ambientalistas está o inchaço populacional, considerado um dos maiores entraves para a construção das siderúrgicas no sul do Estado, onde já existem bolsões de miséria formados após a construção da Samarco Mineração S.A da região.
Com forte apoio do poder público, o maior desafio, portanto, é obter informações claras sobre as intenções da empresa. Até o momento, ela não confirmou a construção de um empreendimento na região, porém, confirmou a aquisição de áreas na região.
Em Anchieta, além da falta de diálogo alegada pela sociedade civil organizada, a construção da siderúrgica em Ubu também atropela a decisão do próprio governo do Estado – que voltou atrás em favor do novo projeto –que decidira no passado negar a instalação da siderúrgica Baosteel na região devido à falta de disponibilidade hídrica para comportar o projeto sem causar prejuízos à sociedade.
Para os ambientalistas, as duas localidades no sul do estado apresentam complicadores. Em Itapemirim, a indústria dependerá do rio Itapemirim, que se encontra degradado, e para os ambientalistas não terá vazão para abastecer o município e a indústria. Em Anchieta, o problema também se deve a indisponibilidade hídrica e também a sobrecarga de poluentes no ar, já registrados acima do limite permitidos por Lei na região.
Para a região sul, que já alcança 91% do limite de poluentes estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) em Anchieta, mais duas siderúrgicas, uma para Ubu e outra para Itapemirim, representará uma ameaça para a qualidade de vida na região formada por balneários turísticos.
Uma velha ideia
O projeto da Baosteel para Ubu, anunciado pela Vale e pelos chineses em agosto de 2008, previa a criação da Companhia Siderúrgica Vitória (CSV), que deveria entrar em produção em 2012 com capacidade para produzir 5 milhões de toneladas de aço por ano. O investimento era de R$ 10 bilhões, com geração de 15 mil empregos diretos.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 02/02/2012)