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2012-02-06 | Rodrigo

Um funcionário da CART, empresa encarregada da medição do lago da barragem de Belo Monte, deixou vazar a informação de que tem o prazo até o final deste ano para concluir o trabalho. Isso equivale a afirmar que a Norte Energia, construtora da barragem, iniciou as obras, incluindo o início do desvio do rio Xingu, sem saber até onde chegarão as águas represadas.

O trabalho da CART será realizado na região de Assurini, a maior comunidade rural de todo o Estado do Pará, com 6 mil famílias, quase 30 mil pessoas. A comunidade é um assentamento do INCRA com predomínio de agricultura familiar, cujas atividades principais são a pecuária e a lavoura de cacau.

Até o ano 2010, de acordo com a Secretaria de Agricultura de Altamira, Assurini era responsável por 60% da produção de alimento no município. Sua localização é à margem direita do rio, na curva em frente à Volta Grande do Xingu, onde está sendo construída a barragem.

“Esse licenciamento às avessas, que permite cercar o rio para depois dimensionar a área afetada e os prejuízos ambientais e sociais, deixa a população atingida confusa e totalmente insegura, sem saber se será ou não atingida diretamente pelo lago da barragem. Ainda mais no caso de Belo Monte, que é muito grande e complexo”, afirma Claret Fernandes, militante do MAB em Altamira.

Claret lembra que essa inversão na lógica do licenciamento ambiental, “que equivale a começar uma casa pelo telhado”, tem sido comum em obras de barragens.  A de Santo Antônio, no Rio Madeira, por exemplo, foi implantada 9 km fora do eixo aprovado pelo Ibama.

Estrada que poderá atingir 400 famílias
Givaldo Pereira Prado, 50 anos, morador da comunidade São Rafael, disse que há menos de um mês ouviu no rádio que a Norte Energia iria construir uma estrada na comunidade do Assurini, desde a balsa até a região da Mangueira, numa extensão de 50 km, com uma faixa de 50 metros de largura, atingindo aproximadamente 400 famílias de assentados, em torno de 2 mil pessoas.

A estrada é uma segunda opção importante para o acesso ao canteiro de obras. Segundo Givaldo, desde esse dia uma grande movimentação de carros e trabalhadores vem ocorrendo na região, entrando nas propriedades, fazendo medição e cadastramento das famílias. “Hoje [dia 31 de janeiro] faço 50 anos de idade e, no dia do meu aniversário, vou ficar em casa aguardando o homem da barragem para o cadastramento”, confessou.

Ele resume a sua história, que expressa o sentimento dos moradores: “Quando cheguei aqui em 1994, não havia estrada, ela foi aberta com facão. O INCRA entrou nessa parte do Assurini assentando as famílias em 1997. A gente colhia muito arroz. Eu colocava quatro ladas nas costas [60 kg] e cada um dos filhos colocava uma, e a gente andava 9 km. O sofrimento foi grande. Mas estou feliz com a conquista da terra para criar meus cinco filhos”.

E conclui: “Um funcionário me perguntou quanto valia meu lote. Respondi que não tenho terra para vender. Queria viver e morrer aqui, deixando a terra para os filhos. Mas agora serei obrigado a sair, sem saber quando nem para onde”.

Edvaldo de Oliveira Cajá, 39 anos, missionário na área de Assurini, foi enfático: “Nós temos direito a escola, saúde, isso é política pública. A barragem aqui é um atrapalho. A organização é o principal caminho, Senão, daqui a dez ou vinte anos, vamos perceber o estrago, e não vai ter mais jeito”.

(MAB, 03/02/2012)


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