Apesar de se mostrar constantemente cético em relação ao aquecimento global, o periódico Wall Street Journal (WSJ) não pode negar que o clima esquentou para seu lado nos últimos dias. Na última sexta-feira (27), o jornal publicou um editorial questionando a legitimidade das mudanças climáticas, o que causou polêmica entre outros jornais e revistas que costumam tratar sobre o tema. Pelo jeito, a chuva de críticas recebidas pelo periódico indica que essa discussão ainda deve gerar muitas tempestades, tanto na mídia quanto na ciência.
De acordo com texto apresentado pelo WSJ, assinado por 16 cientistas, “talvez o fato mais inconveniente [contra o argumento das mudanças climáticas] é a falta de aquecimento global por mais de dez anos”.
Além disso, o jornal cita uma pesquisa de William D. Nordhaus, professor de economia da Universidade de Yale, para sugerir que o combate às mudanças climáticas não tem nem terá benefícios econômicos.
No entanto, a enxurrada de contra-ataques vinda de outras publicações que tratam do aquecimento global mostra que o editorial do Wall Street Journal pode ter apresentado algumas falhas cientificas.
Ainda no mesmo dia, a revista Forbes rebateu as informações apresentadas pelo WSJ, afirmando que o jornal escolheu publicar o texto assinado por 16 cientistas, em vez de publicar outro editorial, assinado por 255 cientistas, que explicava as mudanças climáticas e a influência das atividades humanas nesse fenômeno.
Na segunda-feira seguinte (30), foi a vez de o New York Times colocar os dados do texto do Wall Street Journal em xeque: o jornal mostrou uma declaração de Nordhaus de que seu estudo havia sido mal interpretado pelo WSJ.
“O texto deturpou completamente meu trabalho. Há muito tempo considero que as políticas para desacelerar o aquecimento global teriam benefícios econômicos líquidos de trilhões de dólares”, comentou o professor de economia ao NY Times.
“Tenho defendido uma taxa de carbono por muitos anos como a melhor forma de atacar o problema. Só posso supor que eles sejam completamente ignorantes sobre a economia da questão ou estão deliberadamente adulterando minhas descobertas”, acrescentou.
Outros jornalistas observaram ainda que dos 16 cientistas que assinaram o editorial do Wall Street Journal, alguns deles não eram climatologistas (a lista inclui um astronauta, um físico e um engenheiro de aeronaves), muitos são declaradamente céticos e pelo menos seis estão ligados à indústria de combustíveis fósseis.
Além das críticas de outras publicações, o WSJ também recebeu uma retaliação de cientistas climáticos que leram o editorial. Em uma carta recebida pelo jornal, 38 especialistas em clima contrapuseram as justificativas do texto, citando, entre outras informações, que “pesquisas mostram que mais de 97% dos cientistas que publicam ativamente nesse campo concordam que as mudanças climáticas são reais e causadas pelo ser humano”.
Finalmente, a afirmação “talvez o fato mais inconveniente [contra o argumento das mudanças climáticas] é a falta de aquecimento global por mais de dez anos”, não faz muito sentido diante dos recentes relatórios dos mais renomados centros climáticos do planeta.
A NASA, o Met Office, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) reconhecem que nove dos dez anos com as maiores temperaturas médias já registradas desde 1880 foram no século XXI.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 01/02/2012)