A Amazônia maranhense é dona de rica biodiversidade, ocupa 26% do bioma amazônico, encontra-se em 62 municípios do Maranhão e representa, em termos de bioma, 34% do território do Estado. No entanto, ela corre o sério risco de desaparecer. Há anos vem sofrendo com desmatamentos, retirada ilegal de madeira, mineração, produção de carvão, caça excessiva e criação de gado. Além disso, recebe pouca atenção do poder público estadual e federal e sua importância é ignorada por grande parte dos maranhenses.
Localizada em uma área de transição entre o Nordeste e a região amazônica, em seus 81.208,40 km² já foram encontrados 109 espécies de peixes, 124 de mamíferos e 503 de aves. É lar do gavião real e de espécies ameaçadas como os primatas Cairara Ka’apor (Cebus kaapori) e Cuxiú-preto (Chiropotes satanas). Possui, em média, 570 árvores por hectare de pelo menos 100 espécies. De acordo com o estudo “Amazônia Maranhense: diversidade e conservação” lançado em 2011 como resultado de uma parceria entre o Programa de Pesquisa em Biodiversidade Amazônia Oriental (PPBio), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Meio Ambiente (MMA), trata-se de "uma das porções mais expressivas em termos de riqueza de espécies e endemismos".
O tamanho da Amazônia brasileira
Na contramão da importância de sua biodiversidade, o Maranhão encontra-se entre os Estados que mais desmataram a floresta. Conforme informações do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), até 2010 71,05% do Estado havia sido desmatado. De 1984 a 2000 a taxa de desmatamento da área de floresta ombrófila na região teve média de 1,62% ao ano. Hoje, resta à Amazônia maranhense menos de 25% de sua vegetação original.
Para agravar ainda mais a situação, entre todos os Estados da Amazônia Legal o Maranhão é o que possui o menor grau de ocupação do espaço com áreas protegidas. Diante deste cenário, as Terras Indígenas Alto Turiaçú (530.525ha), Awá (118.000ha) e Carú (172.667ha), bem como a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi (278.000 ha) estão conectadas entre si e juntas representam, conforme o estudo que conta com a participação do Museu Goeldi, "o melhor e mais homogêneo espaço do bioma amazônico no Maranhão". Em outras palavras, mesmo que sofram com pressões em diversas frentes, é nesta região que reside, também, a esperança de conservar o que ainda resta de Amazônia maranhense.
Ciência e “pré-Amazônia”
De acordo com Marlúcia Bonifácio Martins, do Goeldi, “no Maranhão não existe a cultura de integração entre instituições de pesquisa”. “Além disso, não temos recursos suficientes para a produção científica. Precisamos de uma política que leve em consideração a importância dos recursos naturais”, complementa Francisca Helena Muniz, professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Quanto menor a quantidade de informações sobre a Amazônia maranhense, mais difícil fica argumentar em prol de sua conservação. No ano passado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou o documento “Geoestatísticas de Recursos Naturais da Amazônia Legal 2003”. Em se tratando deste estudo, uma reportagem do jornal O Globo publicada em dezembro de 2011 afirma que "o Maranhão foi o último Estado a ter seus dados detalhados". A pesquisa científica da região, em termos gerais, é mais voltada às áreas de Cerrado do que às de Amazônia. Não à toa, pouco se sabe sobre o estado de conservação da maioria dos anfíbios e répteis da porção amazônica.
A falta de importância dada a esta região é histórica e começa na década de 80, quando a área de floresta no Maranhão começou a ser chamada de “pré-Amazônia”. "Este termo foi criado para passar a ideia de algo que tenha vindo antes da Amazônia com o objetivo de 'legalizar' o desmatamento da floresta como se ela não fosse floresta. Foi tão difundido que hoje é utilizado por pesquisadores mesmo que não tenha nenhum cunho científico", explica Francisca. "A sociedade maranhense não está ciente de que no Maranhão existe floresta amazônica. O termo 'pré-Amazônia´ é utilizado em livros escolares e induz a uma diferenciação que não existe", complementa Marlúcia.
Pesquisadores que atuaram na publicação do Goeldi acreditam que a criação deste termo tenha sido uma tentativa de se esquivar do limite de 80% das propriedades rurais amazônicas a serem mantidas como Reserva Legal, enquanto que para áreas de Cerrado este limite cai para 50%. Outra tentativa de aumentar o desmatamento da floresta no Maranhão veio em 2009, quando ruralistas se uniram em uma campanha para a retirada do Estado da Amazônia Legal.
Conservação
Eloísa Neves Mendonça, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), explica que o órgão tem “buscado aproximação com instituições para a conscientização de ONGs, sociedade civil, associações produtivas, assentamentos e produtores rurais para ações de conscientização à respeito da importância da região”. O primeiro passo é a realização de palestras. O segundo caminhará para programas de educação ambiental. O ICMbio espera, com isso, diminuir ações predatórias dentro da Rebio, considerada a porção mais importante de floresta amazônica remanescente no Maranhão e cuja área já teria sido pelo menos 25% desmatada.
A ação é mais do que necessária. Afirma o estudo do Goeldi, acertadamente: "mesmo com todas as dificuldades, a percepção da sociedade maranhense, brasileira e internacional sobre os problemas ambientais que ameaçam a Amazônia e a importância de sua conservação certamente poderão salvar a última fronteira amazônica do Maranhão". Quanto mais informação for gerada e difundida a respeito da região, maiores as chances de sua conservação.
(Por Karina Miotto, OEco, 24/01/2012)