A Noruega, a Rússia, o Canadá e os Estados Unidos anunciam novas perfurações
Os alertas parecem não ter surtido efeito. A corrida pelos recursos do Ártico continua, e até tem se acelerado, apesar dos avisos dos cientistas e das organizações de proteção ambiental sobre os riscos associados aos icebergs, às tempestades e às marés negras. Foi o que se constatou no primeiro dia da conferência Arctic Frontiers, que começou na segunda-feira (23) em Tromso, na Noruega, e termina na sexta-feira, na presença de dirigentes políticos, especialistas e industriais dos países que beiram o Ártico: Estados Unidos, Rússia, Noruega, Canadá e Dinamarca, através da Groenlândia.
O melhor exemplo disso é o país anfitrião, a Noruega, cujo ministro do Petróleo e das Energias, Ola Borten Moe, explicou com satisfação – ao mesmo tempo em que repetia que seu país era um dos líderes mundiais em desenvolvimento sustentável – o quanto a estratégia de Oslo para o petróleo e o gás no Mar de Barents estava sendo bem-sucedida.
Ele afirmou que nunca um processo de atribuição de concessões petroleiras pelo governo norueguês havia atraído tantas companhias: 37 empresas estão na fila para explorar o Oceano Ártico!
A assinatura do acordo fronteiriço marítimo entre Moscou e Oslo no verão de 2011, após décadas de discussões, permitiu acelerar os projetos noruegueses. As duas grandes descobertas – de Skrugard (abril de 2011) e de Havis (janeiro de 2012) - no Mar de Barents, pela Statoil, a companhia nacional, foram reunidas na mesma concessão ao norte da jazida de gás de Snohvit (“Branca de Neve”), dando gerando um forte otimismo na Noruega, onde agora se fala de “nova província petroleira”. Ela conteria entre 400 e 600 bilhões de barris de petróleo, cuja exploração começaria até 2020.
O clima é contagioso. Em 2008, após a expedição russa que havia levado Moscou, um ano antes, a fincar uma bandeira sob o Polo Norte, os países vizinhos do Ártico se reuniram para afirmar que não haveria uma “batalha do Ártico”. Após alguns anos de trégua, é hora de competir novamente.
Por isso, o vice-presidente da Statoil, Tim Dodson, não se deu ao trabalho de usar as palavras amortecidas dos dirigentes políticos de 2008 para explicar que “a corrida para se posicionar no Ártico estava lançada”. Na verdade, além das duas novas jazidas descobertas, a Statoil está envolvida em todo o perímetro ártico, no Mar de Chukchi; no Mar de Beaufort, onde uma licença lhe foi atribuída em 2010; a oeste da Groenlândia, onde a empresa é parceira da Shell para duas licenças; ao nordeste da Groenlândia, onde licenças serão atribuídas este ano.
Do lado russo, a decisão de investir na enorme jazida de gás de Shtokman foi adiada novamente. Mas o projeto de Prirazlomnaya, jazida petroleira descoberta em 1989 na região de Nenets, poderá entrar em exploração comercial este ano.
No Mar de Kara, onde, segundo projeções do Instituto Geológico Americano (USGS), as reservas de gás são as maiores do Ártico, um grande acordo de exploração foi assinado no final de agosto de 2011 entre a russa Rosneft e a gigante americana Exxon.
No Canadá, a folgada vitória do conservador Stephen Harper nas eleições da primavera de 2011 lhe facilitou a tarefa para avançar a exploração petroleira e mineradora no Grande Norte. Em Tromso, Clément Gignac, ministro dos Recursos Naturais do Quebec, explicou as medidas do “Plano Norte”, cujo objetivo é desenvolver dentro de 25 anos seus recursos: onze novas minas serão abertas e várias florestas serão exploradas.
Lisa Murkowski, senadora do Alaska, reafirmou através de um vídeo que a prioridade americana continuava sendo o petróleo e o gás: “Mas também nos interessamos por uma outra possível fonte de energia, se conseguirmos desenvolvê-la em total segurança e eficácia: o hidrato de metano. O Alaska teria 17 trilhões de metros cúbicos dele no mar, o suficiente para abastecer os Estados Unidos por mil anos!”
Em 2008, a USGS havia relatado que as riquezas energéticas do Ártico representariam 13% dos recursos mundiais não provados de petróleo e 30% dos de gás natural. “O gás se encontra em sua maior parte no território russo”, observa Marcia McNutt, diretora da USGS. “Mas o Alaska tem o potencial mais forte no petróleo”. Um tesouro que ninguém quer negligenciar, embora as estimativas da USGS a respeito do petróleo tenham sido diminuídas, como confirma McNutt, após uma perfuração que continha mais gás que petróleo: “Os estudos sísmicos não haviam nos dado essa informação”.
(Por Olivier Truc, Le Monde / Uol, 25/01/2012)
Tradutor: Lana Lim