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hcfcs cfcs Protocolo de Montreal
2011-12-27 | Rodrigo

Participei da feitura do projeto brasileiro de eliminação dos CFC’s aprovado pelo Comitê Executivo do Protocolo de Montreal de 2002. A melhor forma que poderia sugerir para comemorar o cumprimento da meta de eliminação quase total dos CFC´s, após oito anos decorridos, seria fazer uma analise profunda dos números obtidos no recolhimento e reciclagem destes gases de refrigeração e com base nisso traçar estratégias corretivas para o enfrentamento dos HCFC sob a nova fase de assistência do Protocolo de Montreal ao Brasil.

Pelo que sei os números da reciclagem de gases CFC e HCFC´s são desprezíveis. No projeto original estavam previstos 10 centros de regeneração mas aparentemente só 5 foram implementados. Digo aparentemente pois nenhum tem químico responsável e alguns não tem licença operacional.

O volume de CFC recolhido é insignificante pois as grandes instalações já tinham sido desativadas, a falta de compromisso com o recolhimento é a regra, não há uma política fiscal, a fiscalização do IBAMA e dos estados inexiste. O somatório destas realidades levaram a este resultado decepcionante.

Também a existência de gases mais lucrativos fez com que alguns centros tentassem reciclar outros gases. A tecnologia fechada dos equipamentos fornecidos pelo PNUD a esses centros colabora para os pífios resultados. Os equipamentos doados filtram os gases. A boa tecnologia seria a destilação.

Precisamos ter em mente que os gases de refrigeração são produtos estratégicos para um país pois sem eles grande parte da população morreria de fome por não poder conservar alimentos, os centros de processamento de dados parariam pois não suportam as temperaturas tropicais,etc.. Por isso esses gases precisam ser utilizados e as práticas de recolhimento, reciclagem e reutilização deveriam ter se tornado rotineiras.

Há componentes políticos que também devem ser apontados como prenúncio de falência da estratégia nacional sugerida pelo MMA e suas contra-partes. A quase totalidade dos centros de reciclagem foram dados a distribuidores da maior fabricante de gases sintéticos/fluorados de alto potencial de aquecimento (2000 a 7000 vezes maior que o CO2) de refrigeração chamada Dupont.

Isto me parece um dos enormes entraves a universalização da prática do recolhimento pois estas empresas tem de vender gás novo, caso contrário serão cortadas como distribuidores. Se isto não é conflito de interesses não sei como chamar.

Os equipamentos comprados para serem doados aos mecânicos de refrigeração foram comprados de uma empresa estrangeira pois a indústria nacional teve sua participação vedada. Esses equipamentos não são adequados ao Brasil pois usam compressores que não aguentam o nosso clima tropical. Devido a um somatório de fatores os mecânicos não se interessaram pela doação.

De olho na nova fase para atacar os HCFC´s, sugere-se que estes centros tenham que se re-equipar, e as entidades propositoras da estratégia nacional assumam suas responsabilidades (transparência de dados, escolha, monitoramento, implementação da fiscalização pelos órgãos competentes e de uma política fiscal para esta atividade).

A falta de um mercado de gases usados com qualidade garantida é outro ponto fundamental enquanto os fabricantes lançarem campanhas duvidando da qualidade dos gases reciclados e não houver um mercado comprando os gases recolhidos, regenerando e abastecendo o mercado com produto de qualidade nada vai parar a pratica de jogar esses gases na atmosfera.

Quem procurar as razões do pânico dos usuários do Metrô no Rio de Janeiro neste verão, quando o gás do equipamento vazou inundando o vagão, vai achar uma sucessão de equívocos e uma reciclagem mal feita.

O Brasil deve jogar na atmosfera o equivalente a 40.000.000 de toneladas de CO2 anualmente em gases de refrigeração perfeitamente reaproveitáveis.

Creio que este montante não consta no inventário de gases de efeito estufa ou sua importância está minimizada. Os países desenvolvidos não falam deste tipo de poluição somente da queima de florestas e dos gases emitidos pelo gado. Será que e porque o Brasil importa estes gases e exporta carne?

Neste contexto estamos começando a eliminação do gás que é de longe o mais usado no mercado brasileiro e um gás que ainda agride a camada de ozônio. Será que o meio ambiente aguenta tanta poluição? Será que os interesses econômicos devem prevalecer?

O Brasil perdeu uma grande oportunidade de implementar sua própria solução, ao não apoiar empresas com tecnologia por elas desenvolvidas. Também não permitiu a absorção das novas tecnologias no campo dos gases HC para geladeiras e pequenos aparelhos. Acredito que está na hora de rever estas decisões e apoiar a inovação

O MMA e a indústria foram contra a introdução da tecnologia dos HC no país. Porque? Com isso os mecânicos brasileiros treinados no programa não tiveram a oportunidade de melhorar seus conhecimentos no uso dessas substâncias.

Da forma como o programa brasileiro de eliminação dos CFC’s e agora dos HCFC’s está sendo implementado, mais parece um plano de marketing dos fabricantes de gases eliminando os produtos baratos, jogados na atmosfera e impondo produtos novos muito mais caros.

Sem recolher regenerar e reutilizar não há desenvolvimento sustentável, não há meio ambiente que absorva uma tsunami de HCFC que será jogada na atmosfera.

(Por Jorge Colaço*, EcoDebate, 27/12/2011)

* Economista, brasileiro, especializado na reciclagem de gases de refrigeração. Cofundador do Conselho Ambiental de Maricá – CAM.


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