A ex-ministra Marina Silva (sem partido), que em 2010 obteve 20 milhões de votos na corrida presidencial, voltará a estar em evidência nas eleições municipais de 2012. A ex-verde vai trabalhar para alavancar candidaturas a prefeito e vereador de diversos partidos por todo o País, subindo no palanque de quem se comprometer com suas causas, como a sustentabilidade.
A ideia é aproveitar o ano eleitoral para consolidar o que deverá ser seu novo partido, batizado informalmente por alguns de seus colaboradores como PVdoB, o Partido Verde do Brasil.
Marina, contudo, nega que esteja pensando desde já na criação de uma nova legenda. "Neste momento não estamos discutindo questão partidária. É um ponto de partida para discutir a política, que está em crise. A política, infelizmente, tem se transformado em projeto de poder pelo poder. A sociedade precisa ser protagonista do processo político e a gente não pode ter uma visão pragmática de que o movimento tem que ter uma finalidade eleitoral. O movimento tem que ter uma finalidade de discutir a política com P maiúsculo", defende a ex-ministra.
Marina destaca que "só merece" participar de eleições quem discute ideias e propostas para além da disputa "do poder pelo poder".
A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), que se insere dentro do movimento em torno de Marina, admite a criação de um novo partido. "Este movimento deve culminar com a criação de um partido, que será muito bom para o aprimoramento da frágil democracia. Eu estou no movimento. Estamos discutindo no PSOL com serenidade", disse Heloísa.
Em 2012, o candidato que desejar o apoio de Marina terá de se comprometer a, por exemplo, não aceitar dinheiro da indústria do fumo ou da indústria bélica. “A Marina vai subir no palanque de candidatos que se comprometam com uma política horizontal e com a plataforma da Cidade Sustentável”, diz o ex-verde Maurício Brusadin, uma das lideranças do Movimento Nova Política, antigo Movimento Marina Silva.
Segundo ele, o Nova Política conta com cerca de 4 mil pessoas que participam de encontros e reuniões e outras 40 mil interligadas pela internet. Questionada sobre suas condições para apoiar um candidato em 2012, Marina disse não existir uma receita de pronta.
“A Marina vai subir no palanque de candidatos que se comprometam com uma política horizontal e com a plataforma da Cidade Sustentável”, diz o ex-verde Maurício Brusadin
“Não podemos simplificar as coisas. Estamos fazendo um movimento que é suprapartidário, transpartidário, que tem pessoas de vários partidos, da academia e da sociedade civil e o compromisso que as pessoas tem que assumir é com a sustentabilidade e com a ética na política e é claro que isso tem que ser desdobrado do ponto de vista prático, não só naquilo que se diz de palavras, mas naquilo que é testemunho dos candidatos. O movimento é transpartidário. Aí vai do compromisso com a plataforma e do testemunho de vida. A priori não é uma questão de apoiar por ser do PV, por ser do PT, por ser do PPS ou do PDSB. É apoiar de acordo com a coerência programática. E eu falo de apoios de pessoas e não do movimento, que é amplo", afirmou durante encontro no dia 17 de dezembro em Belo Horizonte.
Já manifestaram interesse em participar do movimento de Marina Silva pré-candidatos como a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), a deputada estadual Aspásia Camargo (PV-RJ), o ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), a vereadora Heloísa Helena (Psol-AL), a ex-vereadora Soninha Francine (PPS-SP) e o ex-deputado federal Raul Jungman (PPS-PE).
Também gravitam em torno de Marina Silva o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o deputado federal Antônio Reguffe (PDT-DF), o líder do governo na Câmara Municipal, Roberto Trípoli (PV-SP), o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier (PV-PE), e o secretário municipal de Grandes Eventos de São Paulo, Walter Feldman (PSDB-SP).
Desde que saiu do PV, em 7 de julho, Marina tem circulado por diversos Estados, em reuniões e participando de debates. O último aconteceu no último dia 17 de dezembro em Belo Horizonte, onde o movimento ainda está se organizando. Em São Paulo e Brasília, apoiadores de Marina Silva se reúnem uma vez por semana.
No Rio, a articulação ocorre em torno do Geração +20, movimento que pretende preparar o Brasil para receber o Rio+20. Outro Estado em que há movimentação de ex-verdes é o Espírito Santo, onde Marina ganhou a eleição presidencial.
O próximo encontro nacional do movimento deve acontecer em maio, quando a lista de regras a que candidatos deverão seguir para garantir Marina no palanque será aprovada.
“O que não falta é gente querendo construir o partido. Tem gente querendo somar pessoas que não aguentam mais partidos. E tem gente que não quer construir um partido”, diz Brusadin. A pressão para que Marina se candidate novamente à Presidência em 2014, no entanto, deverá impulsionar a criação da nova legenda em 2013.
(Por Nara Alves e Denise Motta, iG, 24/12/2011)