Empresas holandesas de varejo, comércio e indústria, além de organizações não-governamentais atreladas à Iniciativa de Comércio Sustentável da Holanda (IDH), como o WWF, investirão inicialmente € 7 milhões (cerca de R$ 17 milhões) para garantir 100% de soja responsável até 2015 na produção de carne, laticínios, ovos e outros alimentos na Holanda. O país é o segundo maior comprador de produtos de soja brasileiros, logo atrás da China.
Nos próximos quatro anos, os participantes da iniciativa pretendem importar volumes cada vez maiores de soja produzida de forma responsável, atingindo 500 mil toneladas até 2012, 1 milhão de toneladas em 2013 e 1,5 milhões de toneladas em 2014. O anúncio aconteceu no Congresso Internacional de Gestão de Suprimentos em Amsterdã, em dezembro.
O plano é apoiado pelo WWF-Holanda, Natuur & Milieu e Solidaridad e, entre as organizações participantes, estão a Associação Holandesa da Indústria de Ração Animal, a FrieslandCampina e outras empresas holandesas de laticínios, a Associação Holandesa de Carne, varejistas holandeses como Albert Heijn, C1000, Jumbo, Lidl e a SuperUnie (central de compras de 13 cadeias de supermercados), o sindicato de produtores da Holanda, a Organização Holandesa de Agricultura e Horticultura e agências reguladoras holandesas para produtos de aves e ovos e de margarina, gorduras e óleos.
“O investimento permitirá que plantadores de soja na América do Sul, assim como as demais partes que integram a cadeia de fornecedores, façam os aperfeiçoamentos necessários para obter a certificação da RTRS. A opção por esse selo foi feita para garantir que recursos naturais valiosos não sejam destruídos em decorrência do cultivo da soja”, comentou o diretor-geral da IDH, Joost Oorthuizen.
A RTRS (sigla em Inglês para Mesa Redonda da Soja Responsável) foi criada em 2006 na Suíça e é uma iniciativa com mais de 150 membros (produtores, processadores, comerciantes e fabricantes de alimentos e ração à base de soja, bem como organizações da sociedade civil) para facilitar a criação de um mercado mundial de soja certificada, baseado numa, produção com critérios como respeito aos direitos dos proprietários da terra, comunidades locais, trabalhadores, pequenos produtores e suas famílias.
Tais diretrizes exigem, ainda, que produtores adotem melhores práticas de manejo para minimizar os impactos dos cultivos.
A adequação de sojicultores na América do Sul aos princípios e critérios exigidos para a certificação RTRS no período de transição será apoiada pelo Fundo de Via Rápida para a Soja, criado pela IDH e cuja gestão ficará a cargo da Solidaridad. Ele direcionará investimentos privados aos produtores, por exemplo, para o treinamento em boas práticas agrícolas. Produtores, fabricantes e compradores podem se candidatar ao financiamento, com contrapartida de no máximo 50%. Brasil, Argentina e Paraguai têm hoje quase 140 mil hectares já certificados sob os critérios da RTRS.
Para o coordenador do Programa Agricultura do WWF-Brasil, Cassio Franco Moreira, a iniciativa Holandesa é um exemplo a ser seguido por outros países consumidores de soja, uma vez que a RTRS é a única certificação de soja verdadeiramente democrática e participativa onde os critérios socioambientais de produção foram definidos em debates envolvendo produtores, indústria e sociedade civil.
“Iniciativas de apoio aos produtores como as do governo Holandês e do IDH são vitais nessa fase inicial, pois ajudarão em sua adequação técnica às diretrizes da RTRS, o que resultará em ganhos de eficiência e possível redução nos custos de produção. Agora, o desafio é aumentar o comprometimento de outros países e mostrar aos produtores que a certificação é uma oportunidade, não só de mercado, mas também de gestão técnica e socioambiental das propriedades”, ressaltou.
(WWF-Brasil / Instituto CarbonoBrasil, 22/12/2011)