‘Menos de 40 mil barris’ vazaram no mar, de acordo com a empresa. País tem histórico de acidentes e poluição por causa da extração
Um derramamento de petróleo a cerca de 120 quilômetros do litoral da Nigéria levou a Shell a suspender a exploração do campo de Bonga, no Oceano Atlântico. Segundo autoridades, é o pior vazamento no país desde 1998.
A Shell afirma que vazaram “menos de 40 mil barris”. Para efeito de comparação, no recente acidente da Chevron, na Bacia de Campos, a polícia trabalha com a possibilidade de que até 3 mil barris tenham sido derramados.
De acordo com a empresa anglo-holandesa, o vazamento ocorreu quando um navio estava sendo carregado com óleo e já foi interrompido. "É aproximadamento do mesmo nível do que aconteceu em 1998 com o derramamento de óleo da Mobil", disse Peter Idabor, chefe da Agência Nacional de Detecção e Resposta Vazamentos de Óleo nigeriana.
O óleo, segundo ele, teria descido a linha da costa e já estaria em águas de outros países também. Ele disse, no entanto, que desta vez o país está melhor preparado e tem 210 toneladas de dispersante prontas para diluir o petróleo. A mancha já teria cerca de 70 km de diâmetro.
“Lamentamos que esse vazamento tenha acontecido. Assim que soubemos dele, paramos o fluxo de óleo e mobilizamos nossos recursos, assim como o conhecimento da indústtria para garantir que seus efeitos sejam minimizados”, disse o presidente da Shell na Nigéria, Mutiu Sunmonu.
O vazamento aconteceu na terça-feira (20) e a empresa afirma que, desde então, até metade do petróleo no mar teria se dispersado ou evaporado naturalmente. Nnimmo Bassey, chefe da organização Amigos da Terra Internacional, ouvida pela AFP, questiona que possa ter se dissipado tão rapidamente.
Histórico
A Nigéria tem um longo histórico de problemas ambientais por causa da exploração petrolífera. Em agosto, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirmou que a região habitada pelo povo ogoni, no Delta do Rio Níger, foi poluído por petróleo durante 50 anos e precisará da maior limpeza de óleo já empreendida na história, a um custo de US$ 1 bilhão, e que pode demorar até 30 anos para ser executada.
A petrolífera Shell era a maior operadora em Ogoniland até ser forçada a sair pelas comunidades locais, em 1993. Seus oleodutos e outras infraestruturas, no entanto, permanecem e continuam a causar derrames e sofrer ataques de sabotagem. Na ocasião da divulgação do relatório, a Shell assumiu a responsabilidade por dois vazamentos na região ocorridos em 2008 e 2009.
O Pnuma afirmou que a água potável em algumas áreas foi contaminada tão gravemente que precisaria de ação de emergência imediata. O levantamento foi feito ao longo de um período de 14 meses, com visitas a 122 km de oleodutos e a revisão de mais de 5 mil registros médicos, envolvendo mais de 23.000 pessoas em reuniões locais.
O relatório, financiado pela própria Shell, foi o estudo científico mais detalhado já feito de qualquer área do Delta do Níger, coração da indústria de petróleo da África. O delta é a terceira maior área pantanosa do mundo, e tem grande biodiversidade em seus mangues e cursos d’água. Mas a exploração petrolífera a transformou numa das zonas de pior poluição por óleo no mundo. Já são mais de 6.800 vazamentos registrados, com até 13 milhões de barris derramados, de acordo com ambientalistas.
A Shell tem dito que os derramamentos de óleo no Delta do Níger são, em maioria, causados por roubo de petróleo e ataques de sabotagem, mas promete que limpará a área, qualquer que seja a causa.
(G1, 22/12/2011)