Bloco apresentou na quinta-feira plano para atingir meta de 80% a 95% de diminuição de emissões de gases do efeito estufa até 2050, que inclui, sobretudo, um aumento do uso de energias renováveis e eficiência energética
Na última quinta-feira (15), a União Europeia publicou um roteiro energético para 2050, que indica como o bloco poderá alcançar sua meta de redução de emissões de dióxido de carbono de 80% a 95% dentro de quarenta anos. O relatório é o último de vários roteiros publicados ao longo de 2011, que sugeriam maneiras de descarbonizar diversos setores da UE, como o de transporte, o residencial, o industrial e o agrícola.
O documento apresenta cinco cenários, que mostram uma participação das fontes renováveis na matriz energética europeia de 55% (menor panorama) a 75% (maior panorama), além de uma participação de 97% especificamente no consumo de energia elétrica.
“O roteiro de hoje fornece novas visões sobre como o mix de energia de baixo carbono da Europa pode ficar em 2050. Acima de tudo, ele apresenta um cenário positivo de que um sistema de energia de baixo carbono é tanto possível, quanto, em longo prazo, mais barato do que continuar com as formas de energia convencionais”, comentou David Symons, diretor da consultoria ambiental WSP Environment & Energy.
“Somente um novo modelo energético tornará nosso sistema seguro, competitivo e sustentável em longo prazo. Temos agora um quadro europeu para as medidas políticas necessárias a serem tomadas a fim de garantir os investimentos certos”, concordou Günther Oettinger, comissário de energia da EU, que apresentou o documento.
Para que as recomendações dos cinco cenários (de alta eficiência energética, de tecnologias de abastecimento diversificadas, de muitas fontes renováveis de energia, de muito uso de energia nuclear e de pouco uso de energia nuclear) sejam seguidas, o relatório aponta alguns pontos que devem ser considerados: que a descarbonização é viável tecnológica e economicamente, que as energias renováveis e a eficiência energética são vitais, que investimentos prematuros custam menos, que investimentos atuais podem reduzir os preços futuros e que uma economia de uma maior escala é necessária.
“Descarbonizar a energia da Europa exigirá investimentos de capital altos e também contas mais caras para os consumidores nos próximos vinte anos – testando tanto os mercados de capital quanto a vontade política dos governos envolvidos. No entanto, uma vez construída, os consumidores poderão aproveitar contas de energia mais baixas já que os custos de combustíveis de energia renovável serão substancialmente menores do que o dos meios convencionais atuais, como o gás e o carvão”, declarou Symons.
“O roteiro mostra que obter energia limpa das renováveis custará aos contribuintes não mais do que obter energia suja e perigosa do carvão ou nuclear. A comissão ficará tentada a aumentar o papel do carvão e da energia nuclear para apaziguar os gostos da Polônia e da França, mas os números no roteiro são inequívocos. Eles provam que um sistema moderno de energia não pode funcionar sem renováveis e eficiência, mas pode deixar o carvão e a energia nuclear no passado”, aquiesceu Frauke Thies, diretor do Greenpeace de políticas energéticas da UE.
Entre as principais fontes de energia citadas pelo documento para fazer parte das medidas de curto prazo para a descarbonização da matriz energética europeia está o gás natural. “O gás será vital para a transformação do sistema de energia”, afirma o roteiro.
“O sucesso das renováveis sem o gás é difícil de imaginar, e se hoje a Europa leva a sério o corte significativo de emissões de CO2, substituir os combustíveis com altas emissões de carbono por gás é a forma mais barata e rápida de atingir isso”, completou François-Régis Mouton, presidente da iniciativa Gas Naturally.
No entanto, ambientalistas acreditam que o uso do gás deve ser planejado juntamente com o desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS) para que as emissões sejam controladas, caso contrário a utilização do gás pode colocar em perigo as ambições para manter o aquecimento global em dois graus Celsius.
Mas o relatório também foi recebido com algumas críticas quando foi lançado. Uma delas diz respeito à separação dos métodos para redução das emissões em diferentes cenários, como, por exemplo, do uso de energias renováveis e o melhoramento da eficiência energética. Segundo Arne Mogren, especialista do grupo de consulta do roteiro e autor do documento utilizado para elaborar o relatório, fazer isso foi um erro.
“Na realidade você terá que fazer ambos [renováveis e eficiência energética] em combinação. É isso que precisamos, porque nunca haverá uma escolha para ‘isso ou aquilo’. Se você combinar esses dois cenários, talvez você será capaz de se descarbonizar antes”, explicou Mogren.
Outra crítica foi em relação às metas entre 2020 e 2050, omitidas do roteiro. “A comunicação da comissão poderia ter sido mais clara em seu compromisso com metas de energia renovável obrigatórias para 2030”, censurou Christian Kjaer, diretor executivo da Associação Europeia de Energia Eólica (EWEA).
“Só atingiremos uma descarbonização necessária do setor energético até 2050 se um quadro coerente entrar em vigor após 2020. Há uma necessidade por compromissos para 2030 e a falta de referência a isso definitivamente é uma perda de oportunidade”, observou Christine Lins, diretora do REN21, uma rede internacional de políticas de energias renováveis.
Anders Eldrup, diretor executivo a DONG Energy, enfatizou que tais metas para 2030 são essenciais se os objetivos para 2050 quiserem ser cumpridos. “Metas de renováveis firmes para 2030 e um quadro político sólido para 2030 são imperativos para desbloquear os investimentos privados necessários que podem garantir uma descarbonização impulsionada pelo mercado e uma produção rentável de energia limpa e confiável”, disse Eldrup.
“Infraestruturas avançadas são pré-requisitos para que a Europa consiga uma descarbonização de 85% a 90% até 2050. Um roteiro claro para além de 2020, que dê certezas e encoraje quadros, é, portanto, necessário para estimular os enormes investimentos em infraestruturas novas pela indústria e investidores institucionais que são de importância decisiva para a implementação das metas do roteiro”, acrescentou.
No entanto, na apresentação do documento, Oettinger surpreendeu muitos especialistas ao pedir que os membros da União Europeia negociem até 2014 as metas de redução de emissões para 2030. “Com nosso roteiro queremos garantir que, para todos os participantes, deve haver uma discussão interessante sobre metas obrigatórias para renováveis até 2030. Isso deve começar agora e levar a uma decisão no prazo de dois anos”.
Depois da declaração, os analistas receberam o relatório com mais otimismo. “Com essa forte declaração de hoje, Oettinger forneceu à indústria e aos cidadãos uma clareza. O parlamento europeu e o conselho devem dar agora à comissão uma ordem clara para apresentar metas de energias renováveis obrigatórias ambiciosas para 2030”, concluiu Kjaer.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 20/12/2011)