Na manhã da terça-feira 13, calhou de estar na poltrona ao meu lado, em um voo para Brasília, o deputado federal Ivan Valente (PSOL_SP). Enquanto eu dormia, o parlamentar debruçava-se sobre um extenso clipping de notícias sobre o Código Florestal. Ele se preparava para o grande embate daquele dia na Câmara, quando os deputados contrários à aprovação do projeto na forma como voltou do Senado decidiram jogar para o ano que vem a sua votação, ainda que por motivos diametralmente opostos.
A julgar pela conversa que, após despertar, pude ter com Valente, é possível concluir que a bancada ruralista deixou-se enredar em uma armadilha, vítima da própria arrogância. Diante da relativa folga com que conseguiram, aparentemente, evitar os vetos da presidenta Dilma Rousseff aos pontos mais polêmicos da nova legislação, como a anistia parcial a desmatadores, a ala do agronegócio imagina poder tornar o código ainda mais simpático aos produtores rurais.
Perderam, porém, a chance de aprovar a nova legislação no apagar das luzes de 2011, um ano em que a presidenta contou com o Código Florestal como moeda de troca para aplacar ânimos diante do veto às emendas parlamentares.
E vão tentar ganhar espaço justamente às vésperas da Rio +20, quando os holofotes internacionais estarão voltados para o Brasil, e Dilma certamente será cobrada em seu compromisso anterior às eleições, quando se declarou contrária ao Código Florestal nos moldes em que já se desenhava.
Era essa justamente a expectativa do deputado Valente, com quem não tornei a falar após o desfecho da sessão de ontem. Mas certamente ele terá ficado satisfeito com o resultado.
Sua aposta reside justamente na mobilização da sociedade civil para fazer frente a uma impressionante onda de pressão da área ruralista – não só por meio da vitaminada bancada parlamentar, mas também pelo tratamento dedicado ao tema pela grande mídia, habituada a tratar os interesses de meia dúzia como se fossem os de toda a sociedade.
Ano novo, esperanças renovadas: nesse caso, de que a discussão sobre o novo Código Florestal possa ocorrer com um mínimo de equidade.
(Por André Siqueira, CartaCapital, 15/12/2011)