Um mantra que tem orientado as negociações mundias sobre as emissões de dióxido de carbono tem sido que é preciso evitar um aquecimento superior a 2ºC, para não provocar resultados climáticos apocalípticos. E 2ºC tem sido um ponto sem retorno, um limite direta ou indiretamente consensual entre os negociadores nas conversações internacionais sobre o clima.
James Hansen, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, em Nova York, cujos dados têm sido fundamentais para a fixação desse referencial, desde a década de 1980, reforçou essa hipótese.
Novos e abrangentes estudos feitos por Hansen e outros cientistas, com base em registros do paleoclima e remontando a 50 milhões de anos mostram que aumentar a temperatura mundial em 2ºC é uma "receita para o desastre".
Hansen chegou a essa conclusão após analisar perturbações médias e extremas no registro paleoclimático, que foi mais documentado em anos recentes. O registro mostra que 50 milhões de anos atrás a Terra estava livre de gelo e o nível do mar estava 70 metros mais alto, em média, do que hoje. Ambos os fenômenos resultaram de variações naturais na temperatura média devido a pequenas mudanças na emissão de energia pelo Sol e à órbita da Terra no decurso de escalas de eras geológicas.
Atualmente nem o sol nem a órbita são fatores tão relevantes para o aumento de temperaturas; os principais responsáveis são os altos níveis de CO2 e de outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera.
Os níveis de dióxido de carbono na atmosfera antes da revolução industrial eram de cerca de 280 partes por milhão (ppm), em média. Esses níveis têm subido desde então e hoje estão em cerca de 397 ppm.
Um nível de 450 ppm tem sido de modo geral associado a um aumento de 2ºC na temperatura média mundial. No entanto, a mais recente análise mostra que um nível de 450 ppm é suficiente para derreter uma parcela significativa do gelo no mundo, porque mecanismos de realimentação entram em ação.
O derretimento de gelo acelera, por exemplo, um derretimento ainda maior. O descongelamento do permafrost (gelo permanente), por sua vez, emite metano, que acelera o aquecimento e produz um descongelamento ainda maior do permafrost.
Se o número chegar a 560 ppm o nível do mar poderá subir 25 metros em todo o mundo, segundo Eelco Rohling, professor do Oceanografia e Mudanças Climáticas na Universidade de Southampton, no Reino Unido, que em associação com Hansen apresentou os dados na reunião da AGU. Muitas em todo o mundo estão nessa cota ou em elevação inferior. Há consenso de que se os países continuarem a emitir CO2 ao ritmo atual, o mundo poderá chegar a 560 ppm em 2100.
O registro paleoclimático também mostra que 560 ppm seria suficiente para derreter todo o gelo do Ártico e posteriormente da Antártida. Rohling disse que após o descongelamento da Antártida o nível do mar subiria entre 60 e 70 metros. "Se os governos não modificarem sua atuação", acrescentou Hansen, "o planeta chegará a um estado sem gelo".
Hansen concluiu com uma mensagem aos negociadores participantes das atuais conversações sobre clima em Durban, na África do Sul: "Se o mundo começar a reduzir as emissões de CO2 em 6% ao ano a partir de 2012, os níveis atmosféricos poderão retornar ao nível 'seguro' de 350 ppm. Se o mundo esperar até 2020 para começar a agir, será necessário reduzir o CO2 em 15% ao ano para chegar a 350 ppm. Não temos tempo".
(Por Mark Fischetti, Scientific American Brasil, 14/12/2011)