Árvores estão morrendo no Sahel, região ao sul do Deserto do Saara, e a mudança climática causada pela ação humana é a responsável, diz novo estudo de cientista da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
“A chuva no Sahel caiu 20%-30% no século 20, a mais severa seca de longa duração do mundo, desde que começaram as medições de precipitação em meados dos 1800s,” disse o autor principal do estudo Patrick Gonzalez, que coordenou a pesquisa quando era “visiting scholar” no Centro de Florestas da UC Berkeley. “Pesquisas anteriores já haviam determinado a mudança como causa primária da seca, que superou a resiliência das árvores.”
O estudo será publicado nos próximos dias no Journal of Arid Environments (Revista de Ambientes Áridos), e se baseou em registros de mudança climática, fotos aéreas desde 1954, imagens recentes de satélite e o trabalho tradicional de campo, que incluiu contar e medir mais de 1500 árvores. Os pesquisadores focalizaram seis países na região do Sahel, do Senegal, na África Ocidental ao Chade, na África Central, em locais onde a temperatura média aumentou 0,8 graus Celsius e a chuva caiu em 48%.
O Sahel é uma das regiões mais pobres e vulneráveis do mundo. Ondas recorrentes de inanição já mataram milhões de pessoas lá. O renomado economista Amartya Sen, tem um estudo clássico sobre a fome no Sahel, publicado em inglês, em 1983, chamado “Poverty and Famines: An Essay on Entitlement and Deprivation” (há edição do Kindle disponível).
Gonzalez disse que “ as pessoas no Sahel dependem das árvores para sobreviver. As árvores dão a comida, a lenha, os materiais de construção e os remédios que essas pessoas usam.”
O estudo de Berkeley descobriu que uma em seis árvores morreram entre 1954 e 2002. Adicionalmente, uma em cinco espécies de árvores desapareceram localmente, e as árvores nativas frutíferas e madeireiras que requerem mais umidade foram as que mais sofreram.
Condições mais quentes e mais secas superaram fatores populacionais e referentes ao solo na explicação da mortalidade das árvores, dizem os autores. Os resultados por eles obtidos indicam que a mudança climática está mudando as zonas de vegetação rumo a áreas mais úmidas.
“No oeste do EUA, a mudança climática está gerando mortalidade de árvores ao aumentar sua vulnerabilidade aos besouros” disse Gonzalez, que agora é cientista para mudança climática do Serviço Nacional de Parques do EUA. “No Sahel, são os solos que estão ficando secos que matam diretamente as árvores. A mortalidade de árvores está ocorrendo no âmbito de todo o bioma; grupos inteiros de espécies estão morrendo.”
Os co-autores do estudo são Compton J. Tucker, cientista sênior do Centro Goddard da NASA e Hamady Sy, representante Mauritânia na Rede de Sistemas para Alertas Antecipados de Fome (Famine Early Warning Systems Network). A pesquisa foi financiada com fundos da NASA e do do Serviço de Sondagem Geológica dos Estados Unidos.
(Por Sergio Abranches, Ecopolitica, 13/12/2011)