Cerca de 2.800 trabalhadores dos canaviais de seis países da América Central morrem a cada ano devido a doenças renais crônicas associadas às longas horas que passam agachados cortando cana. The International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), uma rede de jornalistas investigativos que tem produzido reportagens transnacionais bastante contundentes, apurou a extensão do problema.
Os repórteres contam, por exemplo, a história do nicaraguense Maudiel Martinez, de 19 anos, que está morrendo do mesmo mal que levou seu pai e seu avô e que aflige seus três irmãos mais velhos. “Esta doença come os seus rins de dentro para fora”, ele diz. “Não queremos morrer, mas sabemos que este é um caso perdido”.
Sua comunidade, antes conhecida como La Isla (a Ilha), passou a ser chamada de La Isla de las Viudas (a Ilha das Viúvas).
Em El Salvador e na Nicarágua, o número de mortes de homens por doenças renais aumentou cinco vezes nas últimas duas décadas – é mais do que a soma das mortes associadas à Aids, à leucemia e ao diabetes.
Ao contrário do que ocorre em outros países, estas doenças não são consequência da hipertensão ou do diabetes e os cientistas não sabem ao certo se os trabalhadores estão expostos a algum tipo de toxina (talvez um agrotóxico), ou se o mal se deve às longas horas de trabalho sob sol forte e com pouca hidratação.
No entanto, não há dúvida de que se trata de uma doença ocupacional e alguns estudos observaram sintomas semelhantes entre estivadores e mineiros. O ICIJ também faz uma associação, óbvia, da multiplicação dos casos de doenças renais com a explosão da demanda por biocombustíveis à base de cana.
Será que esta epidemia já estaria afetando o Brasil, maior produtor de cana do mundo? Não encontrei referências a respeito, mas deveríamos ficar alertas.
(Por Regina Scharf, Página 22, 13/12/2011)