É muito improvável que a variabilidade natural do clima tenha contribuído com mais de 1/4 no aumento de temperatura observado nos últimos 60 anos, relatam dois modeladores climáticos suíços em um artigo publicado on-line em 4 de dezembro. É quase certo que grande parte do aquecimento observado – pelo menos 74%, resulte de atividade humana, conforme eles escreveram no periódico Nature Science.
Desde 1950, a temperatura média global do ar na superfície aumentou em mais de 0,5ºC. Para separar as causas humanas das naturais os cientistas analisaram as mudanças no equilíbrio da energia térmica que chega e deixa a Terra – um novo método de “atribuição” para entender as causas físicas da mudança climática.
Suas descobertas, incrivelmente semelhantes aos resultados obtidos por outros métodos de atribuição, fornecem uma linha alternativa de evidências de que os gases de efeito estufa, e em especial o dióxido de carbono, são certamente os principais culpados pelo aquecimento global recente.
O aumento maciço de concentração atmosférica de CO2 desde a era pré-industrial teria, de fato, produzido um aquecimento substancialmente maior na superfície se não fossem os efeitos de resfriamento dos aerossóis atmosféricos como o carbono negro, eles relatam.
Tentativas anteriores de separar o aquecimento antropogênico do natural usavam uma técnica estatisticamente complexa chamada “optimal fingerprinting” [mapeamento ideal] para comparar os padrões observados da temperatura do ar na superfície ao longo do tempo com a resposta do clima modelada para os gases de efeito estufa, radiação solar e aerossóis de vulcões e outras fontes.
“Esta técnica estatística é poderosa, mas para a maioria das pessoas é uma caixa preta”, explica Reto Knutti, cientista do climatologista do Instituto Federal Suíço de Tecnologia (IFST), em Zurique, um dos autores do relatório.
Um ponto de vista equilibrado
Knutti e seu coautor, Markus Huber, também do IFST, optaram por uma abordagem diferente. Utilizaram um modelo muito mais simples do balanço total de energia e rodaram o modelo muitas milhares de vezes, usando diferentes combinações de poucos parâmetros cruciais que contribuem com o balanço energético.
Esses incluíam valores globais de radiação de ondas curtas vindas do Sol, energia solar deixando a Terra, o calor absorvido pelos oceanos e efeitos climáticos reversos (como camada de neve reduzida, que amplifica o aquecimento ao expor superfícies mais escuras, que absorvem mais calor).
Usando as combinações que melhor corresponderam ao aquecimento da superfície observada e da captação de calor pelo oceano, os autores rodaram o modelo assim obtido com cada parâmetro energético individualmente. Isto lhes possibilitou estimar a contribuição de CO2 e outros agentes de mudança climática na alteração observada de temperatura. Segundo Knutti, seu estudo foi muito facilitado por uma análise, de 2009, das mudanças no equilíbrio notadas desde 1950.
Knutti e Huber descobriram que os gases de efeito estufa contribuíram de 0,6-1,1ºC para o aquecimento, acompanhado desde a metade do século 20, com o valor de contribuição estatisticamente mais provável por volta de 0,85ºC. Cerca de metade desta, 0,45ºC, foi compensada pelos efeitos de resfriamento dos aerossóis, que influenciam diretamente o clima terrestre ao dispersarem a luz, além de seus efeitos indiretos, pela interação com as nuvens.
Os autores calcularam um valor líquido de aquecimento de cerca de 0,5ºC , a partir dos anos 1950, que está bastante próximo do aumento real de temperatura de 0,55ºC avaliado neste período. As mudanças na radiação solar, uma hipótese para o aquecimento global oferecida por muitos céticos do clima, não contribuíram mais que 0,07ºC para o aquecimento recente, concluiu o estudo.
Para testar se o aquecimento recente poderia ser apenas resultado de um balanço aleatório no clima instável da Terra, outra teoria favorecida pelos céticos, Knutti e Huber rodaram, de forma controlada, vários modelos climáticos diferentes, sem incluir os efeitos dos parâmetros de balanço energético.
Eles descobriram que mesmo que a variabilidade climática fosse três vezes maior que a estimada pelos modelos mais avançados, é muito improvável que tivesse produzido uma tendência de aquecimento tão pronunciada quanto a observada no mundo real.
“Isto reforça as estimativas dos resultados passados,” explica Gabriele Hegerl, climatologista da University of Edinburgh, Reino Unido, “e deveria também levar a previsões de alterações climáticas futuras, fundamentadas no tipo de mudanças já observadas.”
(Por Quirin Schiermeier, Scientific American Brasil, 06/12/2011)