Durante estas semanas de CoP-17, ONGs e movimentos sociais vêm organizando uma série de encontros e discussões não só para analisar as negociações em curso, mas também para desenvolver ações que possam ter impacto real na postura dos negociadores e governantes de países aqui presentes.
Mesmo com o relevante espaço que a sociedade civil ocupa na CoP-17, resultado de um longo processo de demandas e trabalho por uma maior participação nas atividades da ONU, essa conquista traz, de alguma maneira, um revés: existe a sensação de que as ONGs e movimentos sociais se tornaram parte do script das grandes conferências. A participação é em grande parte previsível e a presença da sociedade civil acaba por legitimar a existência de grandes encontros como a CoP.
A conquista deste espaço é, sem dúvida, importante. No entanto, a necessidade de se reinventar o papel da sociedade civil e agir de forma mais inovadora parece fundamental para que se mantenha a força das conquistas que os movimento e ONGs garantiram até o momento.
No que diz respeito a esta CoP, há uma sensação geral de esvaziamento quando comparada a edições anteriores. Isso fica evidente nas conversas com os diferentes grupos aqui presentes, e é ideia repetida por muitos que estiverem em conferências passadas.
Esse esvaziamento se dá de duas formas: tanto na quantidade de pessoas presentes, ainda grande mas perceptivelmente inferior ao que se viu nas CoP-15 e 16, por exemplo, quanto no andamento das negociações, que seguem indefinidas até o momento.
Ainda assim, o papel da sociedade civil é fundamental. Com a entrada na segunda e última semana de discussões, ficou clara a mudança de postura das ONGs. Se no começo da CoP-17 os discursos traziam um tom de maior otimismo e confiança, houve um endurecimento claro ao longo dos últimos dias.
Os discursos cada vez mais firmes, nos quais ONGs e movimentos sociais pressionam coletivamente por avanços concretos, estão trazendo o foco para as demandas da sociedade civil, denunciando a distância entre essas demandas e o que se vê nas negociações.
No que diz respeito aos brasileiros, o Código Florestal tem sido o maior ponto de convergência. O assunto é pauta quase diária de side events e coletivas de imprensa, com repercussão no Brasil e em outros países. Belo Monte também tem sido um tema de debate, puxado principalmente por representantes dos povos indígenas do Brasil e América Latina. O caso brasileiro é exemplo claro deste distanciamento entre a realidade do pais, das negociações em curso na ONU e as demandas urgentes da sociedade civil.
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 acontece em junho de 2012 no Brasil. O governo brasileiro e a ONU planejam organizar novas formas de interação com os representantes da sociedade civil.
O encontro ainda está em processo de construção. Talvez esta seja uma boa oportunidade para que a sociedade civil proponha novas formas de interação, quem sabe mais criativas, entre seus representantes e também com os governos em seus diferentes níveis.
(Por Pedro Telles e Gabriella Contoli, Vitae Civilis, 08/12/2011)