Satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais registraram o corte de 6.280 km² entre agosto de 2010 e julho; Pará foi o que mais desmatou, mas em Rondônia a área destruída dobrou
A taxa anual de desmatamento da Amazônia atingiu seu menor índice desde o início do monitoramento sistemático na área, em 1988, com o abate de floresta equivalente a quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram o corte de 6.280 km2 entre agosto de 2010 e julho deste ano. A margem de erro é de 10%. Foi a terceira queda anual consecutiva.
O Pará foi o Estado que mais desmatou no período, com 2.870 km² de florestas degradadas. Mas foi em Rondônia que o ritmo das motosserras impressionou. Os 869 km² desmatados representam o dobro do número registrado no período anterior no Estado, que abriga a pressão de duas novas hidrelétricas, Santo Antônio e Jirau, em construção no Rio Madeira.
Embora no topo do ranking dos Estados desmatadores, o Pará desmatou menos que no período anterior, enquanto a taxa cresceu em Mato Grosso, que perdeu 1.126 km² de floresta. O ritmo acelerado de abate de árvores em Mato Grosso foi responsável por acionar um gabinete de crise, em maio, cujo desempenho teria sido responsável pelo resultado apresentado ontem. O anúncio foi feito com pompa, no Palácio do Planalto.
"Essa é a menor taxa de desmatamento da história, desde que começou esse monitoramento. É uma taxa histórica e representativa, sinalizando que continuamos com a nossa determinação de reduzir o desmatamento na Amazônia", disse Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente.
Até poucos dias atrás, o governo apostava num crescimento do desmatamento. Isso porque os dados apurados pelo sistema de detecção do desmatamento em tempo real, chamado de Deter, apontava crescimento de cerca de 30% no abate de árvores.
Segundo o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, a taxa anual não acompanhou o ritmo de alertas de desmatamento porque, diferentemente de anos anteriores, o abate de árvores ficou concentrado em grandes áreas.
Sem trégua
O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, disse que a orientação dada ontem pela presidente Dilma Rousseff é a de que "não se dê trégua" ao desmatamento. Segundo o Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a ação de fiscais resultou na apreensão de 42 mil metros cúbicos de toras de árvores, 325 caminhões e 72 tratores no período.
Além disso, o governo contabilizou o embargo de 795 km² de áreas desmatadas. São parcelas de propriedades privadas onde a vegetação nativa se recuperará.
Simulações levadas ontem a Dilma mostram que, a partir de 2015, mantido o ritmo de queda no desmatamento, a Amazônia passará a captar mais carbono que emitir gases-estufa, responsáveis pelo aquecimento global. As simulações levam em conta que o ritmo das motosserras na Amazônia vai se estabilizar em torno dos 5 mil km² por ano.
Mercadante destacou que o governo está investindo R$ 1 bilhão em satélites que aperfeiçoarão o monitoramento das florestas. "Esses satélites vão permitir ganhos significativos na capacidade gerencial de nosso território", disse o ministro.
A divulgação dos novos números ocorre no momento em que se realiza a 17.ª Conferência do Clima (COP-17), em Durban, e em que é preparada a votação do novo e polêmico Código Florestal. O governo trabalha para chegar a 2020 com uma taxa de 4 mil km² de desmatamento na região, de acordo com metas definidas em lei em 2009.
"Esse é o nosso compromisso. Vamos ver como se conclui o debate. Além de combater o desmatamento, teremos um trabalho de regularizar e de plantar árvores nesse País", disse a ministra.
A expectativa do ministério é de que a reforma do Código Florestal leve à recuperação de 300 mil km² de vegetação nativa.
(Por Marta Salomon e Rafael Moraes Moura, O Estado de S. Paulo, 06/12/2011)