Novo estudo do Centro Internacional de Pesquisa Florestal revela que conversão da terra para uso de biocombustíveis pode ter consequências na atmosfera por mais de 300 anos
O debate sobre o nível de sustentabilidade dos biocombustíveis acaba de ganhar mais uma informação que deve acirrar essa polêmica. É o que indica o resultado de uma nova pesquisa do Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR), que mostrou que o “débito de carbono” – ou seja, a quantidade de CO2 emitida na atmosfera por uma atividade – da produção de biocombustíveis pode levar até 300 anos para ser revertido dependendo da terra que foi convertida para a produção.
Nesta análise, publicada no jornal Ecology and Society, foram avaliados três tipos diferentes de biocombustíveis em seis países. De acordo com o relatório, o biocombustível da produção de soja é o que leva menos tempo para compensar seu débito de carbono, levando 30 anos para isso.
Já o biocombustível do óleo de palma pode levar de 59 a 220 anos para reverter seu débito, dependendo do tipo de terra convertida para a produção, enquanto o do pinhão-manso leva de 76 a 310 anos.
“Realmente importa como você produz biocombustíveis e em qual terra você cultiva para saber se você vai ter benefícios para mitigar as mudanças climáticas. Os biocombustíveis que resultam da conversão de ecossistemas naturais nunca vão ser eficientes em emissões”, explicou Louis Verchot, cientista do CIFOR e coautor do documento.
“Esse estudo pede o planejamento do espaço apropriado e pela consciência de que qualquer coisa que você faz em nome da atmosfera poderia ter consequências inesperadas a menos que você olhe para todo o sistema de produção”, acrescentou Verchot.
Segundo a análise, para que os biocombustíveis sejam mais sustentáveis, sua matéria-prima deve ser cultivada em terras que não eram utilizadas para a produção de alimentos ou que não eram florestas ou turfeiras, ou seja, áreas que já estavam degradadas ou abandonadas.
“Na realidade atual, essas restrições deixariam apenas uma pequena janela em potencial para a produção sustentável de biocombustíveis destinados a reduzir as emissões de CO2, dada a limitada disponibilidade e/ou produtividade do uso das terras”, escreveram os autores.
Mas isso não significa que os biocombustíveis não possam continuar a ser utilizados na redução das emissões dos gases do efeito estufa. “A mensagem final não é que os biocombustíveis são ruins para a atmosfera. Em vez disso, os resultados apontam para importantes considerações que devem ser levadas em conta para tornar os biocombustíveis sustentáveis”, observou Verchot.
Para Laura German, editora do trabalho, o relatório deve ajudar políticos, tanto em países produtores como consumidores de biocombustíveis, a entender o que precisa ser feito para guiar e regular melhor a indústria para atingir metas de redução do débito de carbono da produção.
“Esse trabalho sugere que nem os meios de subsistência rurais nem os benefícios da mitigação climática podem ser supostos, indicando a necessidade de mais esforços proativos por governos de países produtores e consumidores, indústria e sociedade civil para conduzir o setor em direções mais sustentáveis e equitativas”, concluiu Laura.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 02/12/2011)