Agência Nacional do Petróleo suspende operação de poço após constatar que petroleira não informou sobre gás sulfídrico. Substância, com odor forte, é 'veneno', segundo diretora da agência; Chevron diz respeitar decisão
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) suspendeu a produção de um dos 11 poços de produção e de outros quatro poços injetores de água da Chevron no Campo de Frade após constatar que a empresa não havia informado a respeito da presença de gás sulfídrico (H2S) na plataforma de produção de Frade, na bacia de Campos.
O gás, usado na produção de enxofre, vem com o gás natural associado ao petróleo no processo de produção e é altamente tóxico. Tem odor muito forte, semelhante ao de um ovo podre. O poço fica no mesmo campo daquele em que houve vazamento de petróleo em novembro e que ainda estava em fase de perfuração.
A diretora da ANP Magda Chambriard classificou o gás de "veneno para o trabalhador" e disse que possivelmente a Chevron será multada. A empresa teria que informar a agência da presença do gás durante a produção.
A Chevron informou que faz "uma monitoria regular da substância" e que tem processos para "garantir a segurança dos empregados". Disse ainda que "respeita as decisões da ANP" e que o poço era responsável por menos de 10% da produção diária do campo, de 79 mil barris.
Além da possível multa pela produção irregular de gás tóxico, a Chevron tem mais dois processos administrativos em andamento na ANP: um por não ter entregue à agência todas as imagens submarinas do vazamento no campo do Frade, ocorrida no dia 7 de novembro; outro por conta do atraso do plano de abandono de poço devido à falta de equipamento.
Os dois processos podem levar a petroleira a ser autuada em até R$ 100 milhões. A empresa já foi multada pelo Ibama em R$ 50 milhões e pode receber outra multa de R$ 10 milhões do instituto.
Segundo Chambriard, não houve vazamento do gás, mas a Chevron não avaliou o impacto que a substância poderia ter sobre as estruturas e os equipamentos da plataforma. "A auditoria anterior na plataforma não constatou a produção do gás sulfídrico. Então, eles teriam que avisar a ANP", disse a executiva.
A irregularidade foi constatada pela agência na semana passada, durante auditoria na plataforma de produção. O poço foi imediatamente fechado, informou a diretora, que comunicou ao Ministério do Trabalho.
Toda produção de petróleo tem gás natural associado, que contém mais ou menos gás sulfídrico. Se o teor for muito alto, pode corroer os equipamentos, segundo o diretor do Centro de Brasileiro de Infraestrututra, Rafael Schechtman. "Se vazar, pode provocar chuva ácida", explicou.
Na semana passada, a Chevron disse que iria provar que tinha os equipamentos necessários para cumprir o plano de abandono do poço onde ocorreu o vazamento de 2.400 barris a 120 km da costa.
"Só se eles provarem que tinham e que um ET levou os equipamentos, mas acho difícil", ironizou Chambriard. A ANP proibiu a petroleira de fazer novas perfurações no campo de Frade até o fim das investigações que, de acordo com a executiva, devem demorar três meses.
Efeito Chevron acende alerta em resseguro
Quando a Petrobras iniciar a negociação da bilionária renovação do seguro de suas operações, em fevereiro, já vai encontrar preços até 15% maiores por conta do acidente da BP, no golfo do México.
Mas a empresa não previa que também poderia enfrentar oferta menor de capacidade das resseguradoras. Depois do acidente da Chevron e ainda no rastro do acidente da BP, essas empresas acenderam o alerta para o aumento de risco do setor de petróleo e gás natural.
A Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP), maior empresa privada de exploração e produção no Brasil, já está sentindo reflexos do vazamento da bacia de Campos, segundo o diretor da resseguradora JLT Re, Adriano Oka.
Em plena renovação de seguro, a empresa amargou oferta 30% menor das resseguradoras para a cobertura do risco no controle de poço e de 50% para a apólice de responsabilidade civil, informou Oka.
"Reduzindo a capacidade, você corre o risco de não conseguir integralizar 100% do risco no mercado", disse Oka.
Com parte do risco sem cobertura, a solução será procurar outras resseguradoras que não participaram da primeira chamada de licitação e que poderão cobrar mais alto pelo resseguro.
A Petrobras renovou em março de 2010 três apólices de seguros envolvendo prêmios [o valor pago pela empresa] totais de US$ 49,6 bilhões. A maior dela tem valor segurado de US$ 94,9 bilhões e se refere a riscos operacionais, riscos de petróleo e responsabilidade civil geral das empresas do sistema Petrobras.
Luz amarela
Um possível aumento de custo na área de seguros seria mais uma gota no oceano de mágoas entre o mercado de ações e a estatal. Em queda de quase 20% no ano na Bolsa de Valores e sem perspectiva de recuperação no curto prazo, a Petrobras não vai cumprir novamente neste ano a meta de produção de 2,1 milhões de barris de petróleo por dia no Brasil.
Além disso, poderá ter custos adicionais se o governo ficar mais rígido na fiscalização. "Se o governo resolver aumentar a regulamentação, fazer novas exigências, e as empresas tiverem de adquirir equipamentos novos, contratar pessoal, pode haver um custo extra e, dependendo do tamanho desse custo, vir a afetar a margem futuramente", disse o analista Erick Scott, da SLW Corretora.
(Por Denise Luna, Folha de S. Paulo, 02/12/2011)