Grandes bancos globais estão dificultando a luta contra o aquecimento global, suprindo usinas de energia e firmas de mineração com amplos fundos para construir usinas alimentadas por carvão, de acordo com um relatório lançado por grupos não governamentais nas negociações climáticas em Durban.
O estudo examinou os portfólios de 93 grandes bancos e descobriu que o financiamento fornecido por essas instituições à indústria carbonífera totalizou US$ 309,4 bilhões desde 2005, quando o Protocolo de Quioto entrou em vigor.
“Se os bancos dão dinheiro para esses projetos, eles estão destruindo todas as tentativas de limitar o aquecimento global a dois graus Celsius”, disse Heffa Schuecking, do grupo de pesquisa ambiental Urgewald, que trabalhou no relatório.
O Protocolo de Quioto foi estabelecido para reduzir os gases do efeito estufa emitidos por países desenvolvidos em uma média de 5,2% abaixo dos níveis de 1990, durante o período de cinco anos até 2012.
Ao mesmo tempo, muitos países ainda investem em usinas alimentadas a carvão, especialmente a Índia e a China, para suprir suas economias em crescimento.
Entre os 20 primeiros bancos listados no relatório estão instituições dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Alemanha, da França, da Suíça, da China, da Itália e do Japão. JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America são os três primeiros bancos na lista.
“Entre 2005 e 2010, o financiamento de carvão quase dobrou. Se não repreendermos os bancos agora, o financiamento de carvão continuará a crescer”, afirmou Tristen Taylor, do grupo ambiental Earthlife.
Uma usina de energia de 600 MW custa cerca de US$ 2 bilhões para ser construída, tornando necessária para os investidores a forte dependência em bancos para receber e mobilizar o dinheiro que precisam.
O relatório argumenta que a mineração de carvão é prejudicial à natureza, a comunidades e a recursos hídricos, enquanto as usinas de energia alimentadas a carvão são responsáveis por grandes emissões e resíduos.
Cada nova usina de energia adiciona milhões de toneladas de emissões anuais de CO2 durante a vida útil dessas usinas, de 30-40 anos.
Anfitriã das negociações climáticas, a África do Sul está atualmente construindo duas usinas alimentadas a carvão de 4.800 MW para atender à demanda rapidamente crescente de energia na maior economia da África.
O país tem grandes planos para implantar investimentos em energias renováveis para diminuir sua dependência do carvão – atualmente 85% do seu mix de energia – mas isso provavelmente levará anos para se materializar.
Muitos países emergentes não têm opção além dos combustíveis fósseis e do carvão para alimentar seu desenvolvimento. Para os bancos, os investimentos podem ser vistos como projetos práticos para ajudar a financiar o crescimento.
A África do Sul tem vastas reservas de carvão e a energia verde é mais desafiadora e cara para ser construída em uma escala significativa, o que significa que provavelmente o carvão ainda deve fazer parte do portfólio de energia do país por um tempo. A usina de energia estatal Eskom libera cerca de 225 milhões de toneladas de CO2 a cada ano.
O relatório pede aos bancos que mudem seus portfólios para projetos de energias renováveis e eficiência energética e implementem metas de redução de CO2 para as emissões que eles ajudam a financiar.
(Por Agnieszka Flak, com tradução de Jéssica Lipinski, Reuters* / Instituto CarbonoBrasil, 01/12/2011)