A comunidade indígena peruana comemorou a notícia, divulgada na semana passada, de que a construtura brasileira Odebrecht desistiu de erguer a Central Hidrelétrica Tam40. Segundo a empresa, o projeto estava em fase de estudos preliminares e inundaria 12 mil hectares, deslocando 1.360 pessoas.
Os nativos peruanos apontam uma cifra diversa -73 mil hectares e mais de 10 mil desabrigados. "Estamos lutando desde 2008", diz à Folha Ruth Mestoquiari, presidente da Central Asháninka del Rio Ene. O grupo representa povos indígenas na região que seria afetada.
"A desistência se deu como um resultado da persistência da voz indígena. Mas nós não podemos baixar a guarda", afirma. Ela crê que os povos locais só ficarão "tranquilos" quando o Peru deixar de possibilitar tais projetos em territórios indígenas.
A suspensão da construção, para Mestoquiari, não é demonstração de respeito aos direitos dos nativos. "Eles sabiam da nossa posição desde 2009. Por que pediram a concessão?"
A luta dos asháninka tem paralelos na América Latina, aponta a presidente do grupo. "Sabemos que, no Brasil, há também muitos problemas com hidrelétricas e que o povo está lutando para fazer sua voz ser ouvida", afirma. "Acompanhamos essa luta de longe."
(Por Diogo Bercito, Folha de S. Paulo, 30/11/2011)