Cerca de dois mil trabalhadores cruzaram novamente os braços desde a manhã de sexta-feira (25), no canteiro Belo Monte, principal obra da construção da usina hidrelétrica na região de Altamira (PA). O Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelo empreendimento havia se comprometido a responder as 16 reivindicações dos trabalhadores ontem, dia 24.
Esta é a segunda paralisação no mês de novembro. Nenhum trabalhador será identificado nessa matéria.
“A única resposta que tivemos foi a demissão dos maranhenses“, comenta M., um dos trabalhadores. “E pra piorar, tivemos a notícia de que nem recesso de natal nós teremos”, explica. Segundo os operários, durante o processo de contratação, a empresa havia acordado a realizar não só a liberação no final do ano, como também permitir a “baixada” – retorno dos trabalhadores a suas casas de origem – de três em três meses.
No entanto, ao chegarem no canteiro, o CCBM os informou de que a volta só aconteceria de seis em seis meses. Afora isso, desvios de função, assédio moral, más condições de trabalho e transporte, comida estragada e não-pagamento de horas extras estão entre as reclamações trabalhistas.
Insalubridade
“A água estava cinza”, relata N., “tanto que agora eles estão enchendo com galão de água mineral”. Segundo os trabalhadores, mais de 200 pessoas passaram mal por conta da água e do almoço estragado. “Também, eles colocam algum tipo de fermento ou salitre, pra gente comer pouco e ficar estufado”, conta J. A reportagem apurou que ontem havia ao menos cinco trabalhadores , do Sítio Pimental – outro canteiro da barragem – internados no Hospital Municipal de Altamira.
Não foi possível entrar na área dos alojamentos onde, segundo os trabalhadores, haviam pessoas doentes. Tanto imprensa quanto operários foram ameaçados: “quem entrar lá sofrerá as consequências”, disse um homem sem identificação.
“Foi difícil chamar vocês [da imprensa], mas dessa vez nós conseguimos”, explica A. “Na hora em que fomos usar o telefone que fica na área de lazer, as linhas foram cortadas. Conseguimos ir no Santo Antônio [comunidade a 500 metros da obra, onde há um orelhão] e ligar pra vocês [Movimento Xingu Vivo]“.
Sob pressão, a empresa se comprometeu a receber os trabalhadores e a pauta de reivindicações na segunda-feira (28). O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sintrapav) garantiu que acompanhará o encontro.
Indígenas dão ultimato a Norte Energia
Enquanto ocorria a greve, os povos indígenas reunidos na Casa do Índio, em Altamira, deram um ultimato à concessionária Norte Energia, responsável pela barragem. “Estamos cansados de ser tratados como idiotas. As oitivas não aconteceram e
as condicionantes não estão sendo cumpridas”, denunciaram lideranças Xipaya, Xikrin, Juruna, Kuruaya, Arawete e Assurini durante reunião frustrada com a concessionária, Funai e Mistério Público Federal.
Lideranças e guerreiros dos povos de todo o Médio Xingu devem chegar na Casa do Índio no decurso da semana. “Dessa vez não vamos ser enrolados”, ameaçou uma liderança xipaya.
Entenda
Durante reunião do Comitê Gestor da Funai, os indígenas haviam exigido, na última semana, que o presidente da Funai e da Norte Energia, além de Ibama, Incra e Norte Energia, além da presença do governo federal e órgãos de defesa – Ministérios Públicos Estadual e Federal e Defensoria Pública e Movimento Xingu Vivo Para Sempre participassem de uma reunião em Altamira marcada para sexta-feira (25), para discutir o não-cumprimento das condicionantes estabelecidas por Funai e Ibama para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
(Xingu Vivo, 25/11/2011)