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cvrd mineração na áfrica minério de ferro
2011-11-21 | Rodrigo

Na avaliação de consultorias da área de mineração, há dois tipos de players brasileiros que deverão passar a intensificar seus investimentos no continente africano. Um é o que já se internacionalizou e adquiriu escala mundial, caso da Vale, que atua em vários países da África há anos. O segundo é o investidor pontual que dará preferência a acordos "bate-volta" para explorar jazidas de manganês, por exemplo, ou mesmo de minerais que o Brasil não possui ou não produz na escala já alcançada pelos africanos - caso da cromita.

O engenheiro José Mendo de Souza, presidente da J. Mendo Consultoria - que além de atuar há 50 anos na área de mineração no Brasil, presta consultoria no continente africano há décadas -, diz que o desafio atual para os brasileiros é tentar imitar a atitude proativa das mineradoras chinesas que ganham espaço rapidamente naquele continente. "Já é hora também das grandes mineradoras brasileiras seguirem o exemplo da própria Vale e 'descobrir' a África de uma vez por todas".

Mendo de Souza lembra que a Vale desenvolve projetos em diferentes países africanos - inclusive na área de minério de ferro - porque adquiriu a consciência de que nenhum país do mundo pode se considerar autossuficiente em bens minerais, seja de que tipo forem, mesmo nos casos em que é grande produtor, como o Brasil é em minério de ferro.

"Há uma similitude muito interessante em termos de ambiente geológico entre o leste atlântico brasileiro e o oeste atlântico africano", diz o consultor. Em sua opinião, as empresas brasileiras devem investir na África. "Mesmo que seja em caráter complementar às jazidas que já possuímos no país."

Além de estar desenvolvendo o maior projeto de minério de ferro integrado com infraestrutura já realizado no continente africano, em Simandou (na Guiné), a Vale realiza atividades de pesquisa de vários minerais em outras nações da África, como Angola, África do Sul, República Democrática do Congo, Gabão, Zâmbia e Moçambique.

Presente em mais de 30 países, a Vale é a segunda maior mineradora do mundo, a maior produtora mundial de minério de ferro e a segunda maior produtora de níquel. A Vale também produz manganês, ferro ligas, carvão térmico e metalúrgico, bauxita, alumina, alumínio, cobre, cobalto, metais do grupo da platina e fertilizantes.

No caso de Simandou, a Vale fechou em 2010 um acordo com o governo da Libéria (país que tem fronteira com a Guiné) para a construção de um sistema integrado ferrovia-porto visando a movimentação da produção de minério de ferro. A multinacional brasileira explora também a mina de cobre Konkola North no cinturão zambiano e a mina de carvão Moatize, em Moçambique, que deverá transformar 11 milhões de toneladas de carvão metalúrgico e carvão energético durante os próximos 35 anos.

No Zâmbia, a Konkola North é um projeto de mina subterrânea com capacidade de produção nominal estimada de 45 mil toneladas métricas por ano de cobre em concentrado. O projeto faz parte de uma joint venture com a African Rainbow Minerals (ARM). A joint venture controla o projeto, com 100% do capital social, e a estatal de cobre Zâmbia Consolidated Cobre Mines Limited (ZCCM) tem opção de compra para adquirir até 20% de participação acionária no projeto.

Na visão do presidente da Vale, Murilo Ferreira, a parceria com a ZCCM é consistente com a estratégia da companhia de preservar os acordos de longo prazo com parceiros locais importantes como apoio à implementação de projetos greenfield. As obras de construção de Konkola North se iniciaram em agosto de 2010, no distrito de Chililabombwe, na Zâmbia. O investimento estimado é de aproximadamente US$ 400 milhões. O início da produção está previsto para 2013 e a capacidade máxima deverá ser atingida em 2015.

A vida esperada de Konkola North é de 28 anos, incluídos aí três anos do programa de exploração para avaliação da área A, que possui um potencial de expandir a produção de concentrado de cobre para 100 mil toneladas métricas por ano, de 2020 em diante. Inicialmente, serão desenvolvidas as minas de South e East Limb, para em seguida se minerar as camadas mais profundas - mais amplas e de maior teor.

A recente aquisição, pela Vale, de 51% das ações da Sociedade de Desenvolvimento do Corredor do Norte S.A. (SDCN) posiciona a empresa brasileira como a parceira líder no desenvolvimento do corredor logístico de Nacala - uma ligação ferroviária de 912 quilômetros entre o interior de Moçambique e o porto de Nacala, no mesmo país.

Esta rede de logística integrada irá oferecer uma rota alternativa de transporte para o escoamento da produção do cobre para o mercado transoceânico, bem como possibilitará o transporte de outras cargas do eixo Zâmbia-Malauí-Moçambique.

A expectativa da direção da Vale é que o desenvolvimento do projeto Konkola North beneficie a população da Zâmbia e amplie a plataforma de crescimento global da companhia no negócio cobre. Além disso, a mina permitirá a diversificação geográfica em uma região com o mais alto potencial para a exploração mineral no mundo, o Cinturão do Cobre (Zâmbia e República Democrática do Congo - entre Angola e Moçambique).

A mina de carvão Moatize, por sua vez, iniciou a produção no terceiro trimestre de 2011. Localizada na província de Tete, Moçambique, Moatize representa o primeiro projeto de carvão greenfield - além de ter sido o primeiro projeto concluído pela Vale no continente africano.

Segundo Murilo Ferreira, o projeto está em plena evolução. "Estamos fazendo o aquecimento para atingir a capacidade total de 11 milhões de toneladas e nos alegra muito estar participando do desenvolvimento da região de Tete", diz, acrescentando que o projeto é tão promissor que os acionistas decidiram pela sua duplicação, para 22 milhões de toneladas.

O presidente da Vale destaca a importância do corredor logístico de Nacala, que receberá investimentos de US$ 4,444 bilhões. "O terminal marítimo de carvão de Nacala será um dos melhores portos da África Oriental e será capaz de receber navios do tipo Handymax, Panamax e Capesize."

Ao mesmo tempo em que torna viável a expansão da capacidade de Moatize, a infraestrutura de logística é alternativa de transporte não só da produção de cobre da Zâmbia, como também da futura produção do projeto de rocha fosfática de Evate, que a Vale está desenvolvendo também em Moçambique.

Potencial geológico da África dobra interesse de mineradoras
"Como centro de poder geológico e mineral o continente africano deveria passar a ser visto com interesse redobrado pelas mineradoras brasileiras", defende o consultor José Mendo de Souza, presidente da J. Mendo Consultoria. "Mas o despertar da África, para nós brasileiros, depende em primeiro lugar de se compreender que esse continente é muito mais complexo do que parece à primeira vista e onde a maioria dos países é composta por uma elite altamente sofisticada no vértice e por tribos beligerantes na base."

Mendo de Souza conta que em suas andanças profissionais pela África captou que há uma grande vantagem para os investidores que falam inglês ou francês, pelo fato de muitos países africanos terem sido colonizados tanto por Inglaterra e França, como por outras potências da Europa. "Os países de língua portuguesa não são os mais desenvolvidos da África e nem mesmo os que têm maior potencial geológico - com algumas pequenas exceções, como Angola, rica em diamantes."

Ele cita o modelo colonial dos ingleses, que sempre tiveram a competência de transformar seus inimigos internos - nas regiões que dominaram mundo afora - em membros da British Commonwealth. Com isso, ao acabar o período colonial, foi possível conservar o figurino inglês nas instituições locais.

"Toda vez que uma empresa vai investir num país que não seja o seu próprio, o maior obstáculo a ser transposto é o arcabouço jurídico legal e, como os ingleses deixaram preservado o seu modelo depois da partida, os investidores de centros mais adiantados tiveram mais facilidade de atuar em tempos pós-coloniais." Segundo o consultor, o caso dos portugueses foi oposto: eles deixaram suas colônias africanas institucionalmente despedaçadas.

Além da Vale, que se internacionalizou a partir da privatização, e já atua com sucesso em vários países da África, Souza destaca que foi a experiência da Odebrecht em gestão territorial internacional e gestão de diversidade cultural, o que a levou a ser bem-sucedida em projetos angolanos, como o de Catoca, de mineração de diamantes.

Nesse projeto, relata o consulor, o grande acionista é uma estatal angolana, a Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama), com participação de uma estatal russa, a Alrosa, na parte de tecnologia da produção, de um grupo israelense, a Daumonty Financing Company em comercialização, e da Odebrecht na área administrativa - aliança que combinou bem as especialidades de cada um.

Sobre os minerais mais indicados para o Brasil explorar na África, Souza afirma que, como há uma certa semelhança entre o ambiente geológico brasileiro e o africano, é interessante focar negócios em itens que os brasileiros produzem de forma abundante - casos do minério de ferro e da bauxita.

Já em relação à cromita (utilizada na fabricação de material refratário e na obtenção de cromo metálico) e do cobalto, seria desejável que os brasileiros se tornassem mais ativos na exploração das jazidas africanas. "No Brasil não temos áreas de cromita como aquelas que os africanos já descobriram e exploram a plena carga", diz.

O mesmo ocorre com o carvão coqueificado de Moçambique, que todos os estudos apontam como investimento promissor. Em relação ao diamante, o consultor lembra que o Brasil ainda não encontrou jazidas tão férteis como as que existem em Angola.

(Por Juan Garrido, Valor Econômico / IHU On-Line, 21/11/2011)


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