Relatório final do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente sugere que um investimento de apenas 2% do PIB global poderia levar dez setores-chave da economia a um desenvolvimento mais sustentável e de baixo carbono
Não é novidade que uma transição para uma economia sustentável é essencial se quisermos ter um futuro em que os recursos naturais não sejam escassos e em que seja possível aliar o desenvolvimento social ao crescimento econômico. Mas há tanto o que mudar em nosso sistema atual que muitas vezes não sabemos nem por onde começar.
Por isso, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou nesta quarta-feira o relatório final Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, assinalando as mudanças que estão sendo feitas – e as que ainda são necessárias – para alcançarmos um progresso social e econômico sem inutilizarmos o planeta e os recursos naturais de que tanto precisamos.
O documento é resultado de um estudo de três anos envolvendo centenas de especialistas, e foi submetido a uma consulta pública de três meses antes de ser divulgado em sua versão final. A pesquisa confirmou os dados preliminares, apresentados em fevereiro deste ano, de que para levar a um desenvolvimento sustentável e de baixo carbono, seria necessário investir 2% do PIB mundial, ou cerca de US$ 1,3 trilhão, na transição para uma economia verde.
“O estudo do PNUMA sobre economia verde desafia o mito de que economia e meio ambiente não se relacionam. Com políticas públicas inteligentes, os governos podem fazer crescer suas economias, gerar empregos decentes e acelerar o progresso social de forma a manter a pegada ecológica da humanidade dentro da capacidade do planeta”, explicou Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU.
A análise aconselha que os gastos totais sejam divididos entre dez setores-chave: US$ 108 bilhões para agricultura; US$ 134 bilhões para a construção civil; US$ 362 bilhões para energia; US$ 108 bilhões para pesca; US$ 15 bilhões para a silvicultura; US$ 76 bilhões para a indústria; US$ 134 bilhões para o turismo; US$ 194 bilhões para o transporte; US$ 108 bilhões para resíduos e reciclagem e US$108 bilhões para água e saneamento básico.
Desta forma, um cenário de investimento verde atingiria taxas de crescimento anuais mais altas do que o cenário habitual de negócios, em um espaço de tempo de cinco a dez anos, e esse crescimento se caracterizaria pela desassociação significativa dos impactos ambientais.
Isso significa que nesse cenário, a pegada ecológica global sobre a taxa de biocapacidade poderia diminuir do nível atual de 1,5 para menos de 1,2 até 2050, e chegar mais perto do valor-limite de 1. Já um panorama habitual de negócios pode elevar esse nível para 2.
Outra consequência positiva da transição a uma economia verde seria uma redução de 33% das emissões de dióxido de carbono até 2050 em relação aos níveis atuais, mantendo a concentração de emissões de CO2 abaixo de 450 partes por milhão (PPM) e limitando assim o aquecimento global ao limiar de dois graus Celsius.
De acordo com o relatório, em relação ao setor energético, por exemplo, um cenário rumo a uma economia verde aumentaria a demanda de energia em um primeiro momento, mas esta retornaria aos níveis correntes até 2050, o que significaria uma diminuição de cerca de 40% em relação ao panorama habitual de negócios, graças a avanços substanciais em eficiência energética.
Em relação à agricultura, os investimentos verdes poderiam conduzir a um aumento da qualidade do solo e ao crescimento da produção mundial de diversas colheitas, representando uma melhora de 10% acima do que é possível com as atuais estratégias de investimento. Já o aumento da eficiência na agricultura, na indústria e nas cidades levaria a uma redução de 20% na demanda de água até 2050 em comparação com os níveis atuais.
Além dos investimentos verdes nestes dez setores, o documento sugere também que subsídios caros e prejudiciais à economia verde sejam reduzidos gradativamente. Alguns exemplos são os subsídios à pesca e aos combustíveis fósseis, que custaram em 2008 US$ 27 bilhões e US$ 650 bilhões, respectivamente, e acabam resultando em mais danos do que benefícios às economias nacionais e ao bem-estar social.
A análise destaca ainda o papel dos países emergentes nessa transição, já que sua participação neste movimento vem crescendo. Para se ter uma ideia, em 2007, o investimento em energias renováveis por países em desenvolvimento foi 29% do total. Já em 2008, essa participação subiu para 40%.
Mas o estudo lembra que nada disso será possível se não houver um compromisso mundial diante deste desafio rumo a uma economia verde. “A Convenção da ONU sobre Mudanças do Clima em Durban, que acontecerá na próxima semana, e a Rio+20, são grandes oportunidades para acelerar e ampliar a economia verde”, declarou Achim Steiner, diretor-executivo do PNUMA.
“Ações de cooperação abrangem desde a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) até as compras verdes para mudar os esforços no campo da sustentabilidade. Ademais, um novo indicador de riqueza irá além do PIB e internalizará os custos da poluição e degradação ao trazer o verdadeiro valor da natureza, com base em cálculos que nos levarão a um caminho de sucesso e economicamente sustentável”, concluiu.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 17/11/2011)