Autoridades responsáveis pelo meio ambiente que resistiam à ideia de divulgar dados sensíveis a respeito da poluição atmosférica na capital chinesa anunciaram que tomarão uma medida para fazer frente às queixas crescentes de que o sistema de monitoramento do governo não registra as partículas atmosféricas mais perigosas emitidas pelo número cada vez maior de carros e caminhões que circulam pelas ruas de Pequim.
A medida consistirá em permitir que, uma vez por semana, 40 pessoas visitem o foco principal da insatisfação, o centro de monitoramento da qualidade atmosférica de Pequim.
"Com a melhoria da qualidade de vida, os moradores de Pequim estão cada vez mais preocupados com o meio ambiente", disse Hua Lei, vice-diretor do centro de monitoramento da qualidade atmosférica da cidade, à agência estatal de notícias "Xinhua", em um relatório que foi publicado na última quarta (9). "Nós esperamos que essa nova medida possa fazer com que cessem os temores da população".
A medida é significativa, já que ela se constitui em um raro episódio no qual as autoridades chinesas respondem ao descontentamento popular. No entanto, as visitas, que serão agendadas com antecedência por meio de uma inscrição online, provavelmente não farão com que aumente a probabilidade de que os relatórios do centro de monitoramento da poluição venham a ser mais abrangentes.
O departamento ambiental da cidade divulga atualmente dados sobre partículas poluentes com mais de 10 micrômetros de diâmetro, mas muitos ambientalistas e cientistas afirmam que as partículas mais perigosas, aquelas que têm menos de 2,5 micrômetros de diâmetro, não são incluídas nas avaliações diárias.
Essa discrepância emergiu devido à Embaixada dos Estados Unidos na China, que conta com os seus próprios equipamentos de monitoramento no telhado e divulga os resultados por meio do Twitter e de um aplicativo de iPhone.
A embaixada, que mede o nível de partículas com menos de 2,5 micrômetros, tem apresentado um retrato bem menos favorável da qualidade do ar em Pequim, classificando-a frequentemente de "perigosa" em dias que os monitores do governo descrevem a poluição na cidade como sendo "moderada" ou "aceitável".
Autoridades governamentais têm minimizado a significância das leituras da embaixada norte-americana, e reservadamente pediram às autoridades norte-americanas que deixassem de publicar os dados, segundo as comunicações diplomáticas secretas publicadas neste ano pelo WikiLeaks.
Essa questão tornou-se crítica na semana passada, devido a um período de névoa seca particularmente intensa e a uma onda de mensagens de microblogs que denunciaram a forma como o governo tem abordado a questão do monitoramento da qualidade do ar.
Várias celebridades se manifestaram nos seus microblogs, e um corretor de imóveis, Pan Shiyi, pediu aos seus sete milhões de seguidores que votassem em uma pesquisa a fim de determinar se existe a necessidade de o governo adotar padrões de controle da poluição mais rígidos. "Se as pessoas souberem como esse problema é grave, elas poderão lutar conscientemente contra a poluição, e modificar os seus estilos de vida e hábitos nada saudáveis", escreveu Shiyi.
Embora a pesquisa não tenha se baseado em uma amostragem aleatória, os resultados revelam as preocupações profundas dos cidadãos chineses comuns quanto ao problema da poluição.
Até a quarta-feira, quase 40 mil pessoas haviam votado, e mais de 30 mil tinham pedido a implementação imediata de novos padrões de controle da poluição (a maior parte dos outros indivíduos que votaram disse que é razoável aguardar um ano; e uma pequena parcela dos votantes afirmou que as regras vigentes devem ser mantidas).
O governo afirmou que no futuro adotará padrões mais rígidos, embora não tenha definido um cronograma para isso.
Enquanto isso, as autoridades têm aproveitado todas as oportunidades para divulgar os avanços feitos desde 2008, quando o governo fez esforços hercúleos para melhorar a qualidade do ar para as Olimpíadas.
Por exemplo, o Departamento de Proteção Ambiental de Pequim diz que a capital chinesa experimentou neste ano 63 dias de qualidade de ar "excelente", o que se constitui em cerca de 12 vezes mais do que o número registrado no mesmo período de 2008. Além disso, apenas 72 dias neste ano não tiveram uma qualidade de ar pelo menos “boa”, o que é mais ou menos a mesma proporção do ano passado.
Entretanto, tais números parecem ter pouco valor para aqueles que prestam atenção às medições feitas pela Embaixada dos Estados Unidos. Em um comentário na quinta-feira passada, o jornal estatal "Guangzhou Daily" disse que a atual abordagem do governo consiste essencialmente em varrer o problema para debaixo do tapete, fazendo com que aumente o cinismo público quanto a isso.
(Por Andrew Jacobs, The New York Times / UOL, 10/11/2011)