O crescimento acelerado da população mundial, que ultrapassou 7 bilhões, impõe a necessidade de dobrar a produção de alimentos até 2050, quando contaremos mais de 9 bilhões de pessoas. A combinação desse fenômeno com a urbanização e a alta da renda nos países em desenvolvimento aponta um desafio ainda maior na produção de carne e abre uma grande oportunidade comercial para o Brasil.
De acordo com estimativas da FAO, a organização para alimentação das Nações Unidas, para alcançar o crescimento acelerado do consumo de carnes em países como China, Índia e Brasil, será preciso elevar a oferta global dos atuais 228 milhões para 463 milhões de toneladas anuais até 2050. Nesse processo, o rebanho de bovinos saltará de 1,5 bilhão para 2,6 bilhões.
O Brasil já é o maior produtor mundial de carne bovina desde 2008, quando ultrapassou a marca de US$ 14 bilhões com a exportação de proteína animal. Projeções do Ministério da Agricultura indicam que o País deverá ampliar a fatia atual de 20,7% do mercado mundial para 44,5% até 2020, quando também dominará quase 50% do comércio de aves.
A demografia cria uma demanda futura firme para produtos cuja competitividade é elevada no Brasil, mas o próprio governo vê entraves para que o País aproveite ao máximo essa oportunidade. Em visita ao Congresso no mês passado, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, defendeu uma estratégia integrada de apoio à pecuária.
Ele diagnosticou uma capacidade ociosa nos frigoríficos que não condiz com o aumento da oferta de proteína para atender à demanda externa. "Precisamos fomentar a pequena pecuária para que ela possa aumentar a produtividade. Isso requer programas de expansão de matrizes, de recuperação de pastagens e um programa fitossanitário para escapar das barreiras."
Descompasso
Dados do Ministério da Agricultura confirmam que a exportação de carne brasileira não está acompanhando a alta da demanda mundial. Entre os seis principais produtos da pauta agrícola, apenas os de carne bovina e suína não registraram alta na exportação em 2009 e 2010.
Mesmo assim, a carne de boi brasileira experimentou trajetória notável no mercado internacional nos últimos anos, com um crescimento médio anual de 17% que fez as exportações saltarem de 200 mil toneladas no fim da década de 90 para 1,2 milhão de toneladas no ano passado.
"A exportação brasileira não cresceu mais nos últimos três anos porque o brasileiro comeu mais carne. O equilíbrio entre exportação e consumo local é a chave do nosso negócio", alega Jeremiah O'Callaghan, diretor de relações internacionais da JBS, maior empresa brasileira do setor. "O Brasil não está aumentando o volume exportado, mas continua crescendo em receita por causa da alta do preço internacional da carne", completa.
Além de grande produtor, a FAO lista a China e o Brasil como os principais vetores do crescimento anual de 5% do consumo mundial de carne. Nos países desenvolvidos, o consumo anual de carne per capita é de 90 quilos. Nas nações emergentes, a média é de 16 quilos por pessoa.
Mas o que mais aguça a cobiça dos produtores nesse mercado é o apetite dos chineses. O consumo anual de carne na China cresceu de uma média de 9 quilos para mais de 50 quilos por pessoa em 30 anos, calcula a FAO. Outro mercado atraente é a Rússia, maior importador mundial.
No entanto, o Brasil tem relações conturbadas com os dois países por barreiras fitossanitárias. Houve queda de 25% nas exportações para a Rússia entre 2008 e 2010. A China fechou o mercado à carne bovina brasileira, em 2005, por causa de um surto de febre aftosa.
(Por Alexandre Rodrigues, O Estado de S. Paulo / IHU On-Line, 15/11/2011)