Potenciais estados do Tapajós e Carajás herdarão problemas ambientais. Especialistas temem que floresta 'pague a conta' das novas estruturas
A potencial divisão do Pará em três estados menores não deve trazer melhorias no campo ambiental - se não trouxer pioras -, avaliam especialistas ouvidos pelo Globo Natureza. Está marcado para 11 de dezembro o plebiscito em que os eleitores paraenses poderão opinar sobre a divisão do Pará, com a criação de dois novos estados, Carajás e Tapajós.
Se aprovados, Carajás e Tapajós herdariam importantes problemas ambientais. Ali estão alguns dos municípios com maior desmatamento na Amazônia Legal, como Altamira, Pacajá, Novo Progresso, Novo Repartimento e São Félix do Xingu, todos integrantes da lista prioritária para o combate à devastação montada pelo Ministério do Meio Ambiente.
Um dos argumentos para a cisão do Pará é que as regiões do interior não são bem atendidas pelo governo estadual, já que o estado é muito grande. Osvaldo Stella, coordenador do programa de mudanças climáticas do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam), concorda que falta presença do Estado no interior, mas ressalta que a maior parte das ações de “comando e controle” (fiscalização ambiental) em áreas que pertenceriam a Tapajós ou Carajás são executadas pelo governo federal.
Por isso, a criação dos novos estados não implicaria necessariamente numa maior atenção das autoridades locais para as derrubadas ilegais. “O risco que corremos é replicar um modelo deficiente. E só multiplicar o que temos agora”, aponta.
Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), considera que os grupos políticos que impulsionam as campanhas para desmembramento de Carajás e Tapajós tendem a favorecer o desmatamento em nome da geração de renda.
“A tendência é piorar, se ocorrer a divisão. Carajás já tem desmatamento muito expressivo, vai concentrar a violência e o desmatamento. O cenário é cinzento”, avalia. “Tapajós tem focos de desmatamento, como Novo Progresso e a região da Terra do Meio, mas ainda é uma área com muita floresta. Suas lideranças também tendem a favorecer as agendas pró-desmatamento”.
Veríssimo explica que o estabelecimento dos novos estados cria apenas mais despesas, e não novas receitas. Seu temor é que, como já vem acontecendo historicamente na Amazônia, se busque no desmatamento a fonte de recursos para sustentar as novas estruturas estaduais.
É o modelo chamado de “boom-colapso”: derruba-se a floresta, gerando renda para poucos proprietários de terra e, uma vez devastada a floresta, não há uma alternativa econômica verdadeiramente sustentável para a população.
Stella nota que por trás desse modelo há um paradigma falso de que é necessário desmatar para expandir a agricultura: “Isso não é verdade. O desmatamento é uma forma de apropriação do território. Derrubar, vender madeira e fazer pasto de baixa produtividade é um desastre para o país, economicamente”.
Na opinião de Veríssimo, apenas na parte remanescente do estado do Pará a situação seria melhor, já que ali o governo demonstrou ser de uma linha contrária à devastação. “A liderança política de Belém é onde há maior esforço e consciência contra o desmatamento (dentro do Pará atual)”, diz.
(Por Dennis Barbosa, G1, 11/11/2011)