O cais na Bundy's Seafood está quieto, os caminhões vazios e uma equipe que tem uma fração do tamanho normal está sentada ao redor de uma mesa esperando para fazer alguma coisa. Mas o indício mais revelador de que há algo errado é o cheiro. O cheiro está ótimo.
"Não há camarões", explicou Grant Bundy, 38. O cais deveria cheirar forte como um lugar onde são comprados 4.500 quilos de camarões por dia nos barcos. Não este ano. Em todo o mês de setembro, a Bundy's Seafood comprou cerca de 19 mil quilos.
A temporada do camarão branco começou no final de agosto, e Jules Nunez, 78, disse que foi a pior temporada que já viu desde que começou a pescar camarão em 1950. Segundo alguns, a pesca caiu 80% ou mais.
"Muitas pessoas dizem que é isto ou é aquilo, está quente de mais, frio demais, é a BP", disse Nunez. "Simplesmente não sabemos." Há muita coisa que não se sabe. O Departamento de Vida Silvestre e Pesca da Louisiana não compilou dados de desembarques nesta temporada, por isso nesta altura é difícil medir com alguma certeza o grau de anormalidade.
Qualquer trabalho forense é complicado pelas estranhezas do clima este ano, com secas severas nos estados ao longo do golfo do México interrompidas por enchentes de primavera do rio Mississípi, que levaram água doce para os pântanos.
Além disso, as pescas de camarão branco flutuaram ao longo de décadas por vários motivos. (Um porta-voz da BP disse que algumas amostras indicam que a população de camarão branco em 2011 está dentro da variabilidade histórica.)
Joris L. van der Ham, um pesquisador da Universidade Estadual da Louisiana( LSU na sigla em inglês) que estuda o camarão branco, disse que encontrou um número maior que o habitual dessa espécie no inverno passado em estuários afetados pelo vazamento de petróleo da BP em 2010.
O doutor Van der Ham especulou que certas substâncias no petróleo podem ter reduzido o índice de crescimento do camarão, e que o grande número que encontrou no ano passado pode não ter chegado ao golfo para desovar, explicando a falta de uma geração.
Os que trabalham na indústria de alimentos marinhos, assim como seus advogados, procuram atentamente sinais do colapso de uma espécie, como o que dizimou a pesca de arenque quatro anos após o vazamento do navio Exxon Valdez no Alasca em1989.
Essa preocupação foi acentuada por um estudo recente de pesquisadores da LSU que relataram que uma espécie de lambari chamado killifish, abundante nos pântanos do Golfo, está apresentando sinais de danos celulares, problema devido à exposição ao petróleo.
Membros da indústria de alimentos têm dúvidas de que o camarão se recupere até 2012. Tudo isso demonstra como ficou difícil ganhar a vida com a pesca de camarão, diz David Veal, diretor da Associação Americana de Processadores de Camarão.
Veal disse que é mais um problema para este setor, somado ao declínio do mercado interno, o aumento dos preços do combustível e os furacões na última década. "O fato de que ainda há alguém neste negócio é um depoimento sobre sua tenacidade", ele disse.
(Por Campbell Robertson, The New York Times / Folha de S. Paulo, 14/11/2011)