Instituto avalia que construção de casas para assentados, por exemplo, o distancia de suas atribuições principais. Assuntos tabus como a atualização de regras para desapropriação de fazendas estão entre as alterações em discussão
O Incra (Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária) negocia com o Planalto mudanças estruturais para enxugar suas funções e tentar acelerar o programa de reforma agrária, em marcha lenta no governo Dilma.
Dentre as alterações em debate há dois assuntos tabus: a atualização de índices de produtividade (definem quais fazendas podem virar assentamentos) e a diminuição dos juros embutidos em processos em que fazendeiros questionam valor pago pelo Estado em desapropriação.
Além disso, o órgão quer que a construção de moradias para assentados seja assumida pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida.
No diagnóstico entregue ao Planalto, o Incra assume que os oito anos de Lula não conseguiram absorver as 186 mil famílias com direito a receber lotes de terra e que ainda aguardam assentamento.
Além disso, mostra que seriam necessários R$ 703 milhões (quase metade do que gastou neste ano) para terminar de pagar processos de obtenção de terras já iniciados. O relatório também relata a precariedade encontrada nos assentamentos.
Celso Lacerda, presidente do Incra, assume os problemas, mas afirma que a situação era muito pior antes de o PT assumir o poder. A melhoria, diz ele, passa por uma atuação mais concentrada: distribuir terras e ajudar o pequeno agricultor.
A redução de atribuições é polêmica entre os funcionários, para quem as mudanças podem desidratar a política da reforma agrária.
Tabus
A adequação dos índices de produtividade à realidade do agronegócio é reivindicação dos movimentos sociais, porque pode ampliar a quantidade de propriedades a serem expropriadas. Os índices se baseiam em dados de 1975.
Já a diminuição dos juros compensatórios seria um alívio aos cofres do órgão.
Segundo decreto de 1941, devem ser de 6%, mas decisão liminar de 2001 do STF dobrou esse percentual.
Além da falta de dinheiro, o Incra enfrenta o envelhecimento de seus funcionários. Desde a chegada do PT, em 2003, a força de trabalho do Incra saiu de 5,5 mil para 5,8 mil funcionários. No período, o número de famílias assentadas passou de 544 mil para cerca de 921 mil.
(Por João Carlos Magalhães, com colaboração de Natuza Nery, Folha de S. Paulo, 03/11/2011)