Conforme tem acontecido nas últimas edições do Fórum Social Mundial, a edição de 2012 será temática e descentralizada. O meio ambiente é o tema central dos encontros que acontecerão entre 24 e 29 de janeiro em Porto Alegre, com o objetivo de construir uma agenda de articulações para a Rio+20.
“No encontro, faremos uma discussão sobre a questão ambiental e do desenvolvimento, com o objetivo de construir uma agenda comum de lutas entre vários movimentos, levando em conta todo este processo de mobilização que estamos vendo mundo afora, desde a Primavera Árabe até os acampamentos em praças públicas”, assinala Moema Miranda em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone.
A reflexão acerca das crises mundiais geradas pelo sistema capitalista também faz parte da programação do evento. Segundo Moema, esta discussão é fundamental na elaboração de uma agenda para a Rio+20. Referindo-se às manifestações mundiais contrárias ao atual modelo econômico e político, ela conclui: “Esperamos que Porto Alegre possa ser um espaço para a organização de uma assembleia mundial de indignados”.
Moema Miranda é antropóloga, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e atualmente é diretora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase.
A entrevista foi realizada em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT, parceiro estratégico do IHU.
Eis a entrevista.
IHU On-Line – O Fórum Social Mundial 2012 será descentralizado e Porto Alegre recebeu a tarefa de articular o encontro mundial dos movimentos sociais que debaterão a temática ambiental tendo como pano de fundo a Conferência Internacional Rio+20. Como estão os preparativos do FSM de Porto Alegre?
Moema Miranda – Em 2012, o Fórum Social Mundial acontecerá de uma forma descentralizada. A cada ano ímpar acontece um Fórum único e nos anos pares, acontece a jornada de lutas que se expressa de forma diversificada, em diferentes partes do mundo. Como já aconteceu em 2010, em 2012, Porto Alegre hospedará um Fórum de grande relevância.
O Fórum que acontecerá de 24 a 29 de janeiro de 2012 será temático e preparatório para a Rio+20. O tema principal será a crise do capitalismo, a justiça social e ambiental. Será um momento importante para construir as agendas e as articulações para a Rio+20, que ocorrerá no Rio de Janeiro em junho de 2012.
No encontro, faremos uma discussão sobre a questão ambiental e do desenvolvimento, com o objetivo de construir uma agenda comum de lutas entre vários movimentos, levando em conta todo este processo de mobilização que estamos vendo mundo afora, desde a Primavera Árabe até os acampamentos em praças públicas.
Quais são as vantagens de organizar um encontro descentralizado?
Miranda – O encontro descentralizado permite a construção de vínculos mais fortes de algumas regiões com a dinâmica do Fórum Social Mundial. O Fórum é hoje o principal espaço de articulação da cidadania planetária, e os encontros descentralizados permitem esta visibilidade de conjunto. Em 2012, o Fórum acontecerá em Porto Alegre, e em diversos países, como na Tunísia, na Galícia - Espanha, no Canadá. Isso permite uma expansão do encontro e ajuda a nutrir a dinâmica do Fórum com as diferentes expressões de luta que existem ao redor do mundo.
Em relação aos conteúdos e metodologias, já há encaminhamentos? O FSM funcionará com a dinâmica de conferências, oficinas e plenárias?
Miranda – No final de semana (22 e 23-10) realizamos uma reunião importante em Porto Alegre, com a presença de mais de 50 pessoas de diferentes redes internacionais e nacionais para discutir a metodologia do Fórum e sua organização para atingir os objetivos, garantir a pluralidade e construir determinados pontos comuns na agenda de luta.
As atividades serão autogestionadas, como acontece tradicionalmente, mas, como esse encontro é preparatório para a Rio+20, será necessário estabelecer reuniões mais organizadas, seminários, debates relacionados com temáticas específicas. Também estamos pensando em criar um espaço de diálogo com o governo. Então, é provável que se tenha um período do dia para debater questões centrais da posição do governo brasileiro com a sociedade civil.
A proposta dessa edição temática propõe-se a ser mais de articulação, construção de uma agenda tendo presente a Rio+20 ou apenas de debates?
Miranda – A ideia é organizar um encontro de preparação para a Rio+20. Mas, como a Rio+20 é uma conferência sobre o desenvolvimento sustentável, as questões intrínsecas nos debates do Fórum são as crises mundiais. Do nosso ponto de vista, existe uma crise sistêmica gerada pelo sistema capitalista, o qual concentra a renda e destrói a natureza. Nesse sentido, é fundamental que, no debate da Rio+20, a discussão do sistema capitalista ganhe um espaço central.
O Fórum vai promover uma reflexão contra a mercantilização e a favor dos bens comuns. Também vamos repercutir algumas lutas exemplares como Belo Monte e o debate em torno do novo Código Florestal. Essas são questões demonstrativas que estarão presentes na Rio+20.
O FSM 2012 acontece no redemoinho de uma forte retomada do movimento alterglobalização: primavera árabe, indignados, ocupa Wall Street. Há expectativa de que esses movimentos se façam presentes em Porto Alegre e, ainda mais, qual é sua contribuição para o FSM na perspectiva da temática ambiental?
Miranda – Com certeza. Pessoas do Mundo Árabe, da Tunísia, do Egito, do Marrocos e da Palestina participaram do encontro em Porto Alegre. Também vieram para a reunião pessoas dos Estados Unidos, Itália, França, que estiveram profundamente envolvidas com a questão dos indignados. Nós esperamos que Porto Alegre possa ser um espaço para a organização de uma assembleia mundial de indignados que acolha essa diversidade de lutas.
Em relação à preparação da Cúpula oficial Rio+20, os movimentos sociais foram convidados a participar? Qual tem sido a postura dos movimentos?
Miranda – Representantes da sociedade civil sempre são convidados a participar. O movimento sindical, vários movimentos ambientalistas, movimento feminista, movimentos indígenas, já têm uma tradição de reação nos debates oficiais e nas plenárias das Nações Unidas. Isso certamente continuará.
Plenárias temáticas que antecedem ou sucedem o Fórum – mesmo em sua versão descentralizada – estão sendo articuladas? Há conhecimento de alguma que acontecerá?
Miranda – Vão acontecer encontros na Galícia, no Canadá, e em outros países. Mas o calendário final deste Fórum deve sair no final de novembro, depois de uma reunião do Conselho Internacional em 23 e 24 de novembro, em Bangladesh. O calendário dos fóruns descentralizados deverá estar pronto no início de dezembro.
Quais são os grandes temas e demandas que os movimentos sociais deverão levar para a Conferência Rio+20? Já há consensos de pauta dos movimentos em torno da agenda ambiental?
Miranda – Por enquanto estamos construindo essa agenda.
Que avaliação a senhora faz da reunião que aconteceu em Porto Alegre?
Miranda – A reunião foi importante e positiva. O fato de pessoas que estão ligadas à COP-17, ao Occupy Wall Street, à Primavera Árabe, e às mobilizações europeias dos indignados participarem do encontro, além da presença dos indígenas e quilombolas da América Latina, demonstra que o processo preparatório para a Rio+20 será de articulação das diversas lutas e demandas.
(IHU On-Line, 01/11/2011)