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guerra das papeleiras botnia / upm-kymmene celulose e papel
2011-10-25 | Rodrigo

Em meio ao florescimento de protestos contra a corrupção no Brasil, jornais e portais noticiosos perderam uma oportunidade de mostrar como a venalidade pode levar a conflitos diplomáticos e daí a pior. Foi quando informaram, na quarta-feira (12/10), que o ex-presidente uruguaio Tabaré Vázquez fez uma declaração desastrada sobre o contencioso com a Argentina por causa de uma fábrica de polpa de celulose – a Botnia, hoje UPM, de capital finlandês.

Vázquez mencionou a hipótese de um conflito bélico com a Argentina. Revelou que, diante da penúria das Forças Armadas uruguaias, em 2007, no auge do conflito, chegou a pedir ajuda ao então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.

A fábrica funciona às margens do Rio Uruguai, que marca a fronteira entre os dois países, e a Argentina alegava que ela poluía o rio. Uma disputa junto ao Tribunal de Haia deu respaldo jurídico à manutenção da fábrica em funcionamento.

"La codicia rompe el saco"
A verdadeira história disputa, apurada por este Observatório da Imprensa e confirmada pelo editor chefe do diário argentino Clarín, Julio Blanck, em 2006, durante visita a São Paulo, é a seguinte: autoridades da província argentina de Entre Rios pediram propina a espanhóis e finlandeses para autorizar a instalação da fábrica. Os espanhóis ficaram de dar uma resposta, mas os finlandeses rebarbaram o pedido: era dinheiro demais. Decidiram cruzar o rio.

Quando lhe foi submetida essa informação, Blanck respondeu: “Eu publiquei isso em janeiro”. O tópico de Blanck dizia o seguinte: “Os europeus haviam projetado instalar as fábricas em Entre Rios. A crise e o default argentino influíram para mudar esses planos. E, além disto, é um segredo já conhecido em meios políticos e empresariais que as exigências da província para aprovar o investimento foram longe demais (...). Quem tudo quer nada tem [la codicia rompe el saco], como diz um ditado castelhano tão antigo que há 400 anos Cervantes o escreveu no Quixote”.

Visão técnica ignorou a política
A fábrica, uma das maiores do mundo, foi parar em Fray Bentos, província uruguaia de Rio Negro. Para o tamanho do PIB uruguaio, foi um investimento colossal.

Segundo uma fonte brasileira que tem boas informações sobre o assunto, engenheiros deram o palpite infeliz de, para economizar em movimentação de caminhões, colocar a usina na beira do rio, fazendo tábula rasa dos melindres e suscetibilidades envolvidos. Veja aqui a localização da fábrica UPM, do núcleo urbano de Fray Bentos e da cidade argentina de Gualeguaychú.

A população de Gualeguaychú, com uma pequena ajuda de autoridades que tinham ficado a ver navios, pôs a boca no trombone, denunciando a poluição do rio, e o assunto virou conflito diplomático − quase bélico, informou agora o então presidente Tabaré Vázquez (o presidente argentino era Néstor Kirchner).

Segundo nota do Observatório do Centro de Informação Europeia da UFRJ, a Argentina argumentou que um tratado entre os dois países exigia aprovação prévia do país para a construção da fábrica, enquanto o Uruguai se considerava obrigado a apenas comunicar ao vizinho a implantação da papeleira.

Em relação à denunciada poluição, as autoridades uruguaias argumentaram que a fábrica traria um impacto positivo sobre as águas, porque ela utilizaria equipamentos de última geração na limpeza dos resíduos, além de passar a tratar o esgoto de Fray Bentos. Ainda assim, habitantes de Gualeguaychú decidiram bloquear várias pontes que ligam os dois países, o que causou prejuízo econômico ao Uruguai.

História sem fim
A polêmica parecia ter esgotado seus desdobramentos, mas veio a declaração de Tabaré Vázquez, seu pedido de desculpas e o concomitante anúncio de sua aposentadoria política. Ele era o preferido da Frente Ampla para disputar a sucessão de José Mujica em 2014.

Mas isso pode não ter anulado o potencial farsesco do episódio. Diante do gesto do ex-presidente, a deputada Ana Lía Piñeyrúa, do oposicionista Partido Nacional, declarou que Vázquez quis sair de cena depois da fala desastrada para que depois “lhe fossem pedir para voltar”.

Correligionários de fato o procuraram no dia seguinte, mas o processo todo se encrespou posteriormente. Em Gualeguaychú, ao mesmo tempo, a brasa da discórdia foi reavivada. Algumas centenas de manifestantes foram às ruas e bloquearam uma estrada no domingo (16/10). As manifestações renderam fotos no El País de Montevidéu e nos portenhos Clarín e La Nación:

Ao fim e ao cabo, a menos que haja uma reviravolta trágica, o Uruguai só tem a agradecer a quem, na província argentina de Entre Rios, errou na mão ao tentar achacar os finlandeses. Para a Argentina, certamente foi mau negócio. Mas talvez renda arroubos patrióticos oportunos em período eleitoral.

(Por Mauro Malin, Observatório da Imprensa, 18/10/2011)


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