Custo da terra em mercados consolidados direciona investimentos para Estados do Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste. Estimativa é que essas regiões recebam 90% dos R$ 5,7 bilhões das empresas para formação de novos cultivos
A valorização da terra em mercados consolidados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná transformou os Estados de Mato Grosso do Sul, do Maranhão, do Tocantins e do Pará nas novas fronteiras florestais para o cultivo do eucalipto voltado à indústria.
Dos R$ 5,7 bilhões que as empresas planejam investir até 2015, 90% devem ir para os Estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, segundo a Abraf (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas).
Numa comparação entre Estados, a diferença no preço da terra pode encarecer em até R$ 700 milhões o projeto de implantação de um fábrica de celulose -matéria-prima (eucalipto), equipamentos e transportes-, segundo estimativas das empresas.
Enquanto em Mato Grosso do Sul uma unidade com capacidade para 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano custaria R$ 1,8 bilhão, em São Paulo sairia por R$ 2,5 bilhões, afirma Aires Galhardo, diretor florestal da Fibria, uma das maiores do país.
"A formação dessas novas fronteiras florestais foi motivada pelos preços das terras nos outros Estados e por serem regiões ainda não exploradas, onde podemos encontrar preços mais favoráveis", disse Galhardo.
Em Mato Grosso do Sul, a Fibria é proprietária de uma das maiores florestas e vai adquirir mais áreas para ampliação da unidade de celulose em Três Lagoas. Os investimentos industriais devem somar R$ 4 bilhões.
Maranhão
No Maranhão, a Suzano Energia Renovável, do grupo Suzano Papel e Celulose, vai investir R$ 1 bilhão na formação de florestas e numa indústria de "pellets" de madeira (pedaços processados de madeira para incineração e geração de energia). A estimativa da empresa é iniciar a produção em 2014 e gerar 2.700 empregos diretos no Estado. Até lá, a meta da unidade será alcançar 3 milhões de toneladas de "pellets".
Atualmente, a Suzano tem 341 mil hectares plantados com eucalipto no país. Para o diretor-executivo da Abraf, César Augusto dos Reis, o baixo preço da terra nos Estados também é favorecido pelo fim da pecuária extensiva. "Os pastos ficaram ociosos e agora estão dando espaço a grandes plantações de eucalipto."
A unidade da Eldorado Brasil que está sendo construída em Três Lagoas terá 210 mil hectares de eucalipto. Atualmente, a empresa só garantiu 70 mil hectares. Os investimentos totais (florestal e industrial) previstos são de R$ 4,8 bilhões.
No Tocantins, a expectativa da Aretins (Associação de Reflorestamento do Tocantins) é atingir 600 mil hectares de eucalipto plantados até 2016. A Jamp, de Dueré (TO), deve quadruplicar a área plantada de eucalipto, hoje em 3.000 mil hectares. Segundo a Abraf, a silvicultura no Brasil obteve valor bruto de produção de R$ 51,8 bilhões em 2010 -recorde histórico. De acordo com a associação, o setor gera 4,5 milhões de empregos diretos e indiretos no país.
Restrições a estrangeiros reduzem plantio
As restrições impostas pelo governo brasileiro para aquisição de terras por estrangeiros causaram a suspensão de ao menos R$ 14 bilhões no último ano destinados à implantação de plantios florestais, segundo estimativa da Abraf.
De acordo com a direção da associação, o parecer da AGU (Advocacia-Geral da União) publicado em agosto de 2010 surpreendeu os grupos empresariais de capital estrangeiro que queriam investir.
Em Mato Grosso do Sul, três empresas com capital estrangeiro suspenderam os projetos. De acordo com a secretária estadual de Desenvolvimento Agrário, Produção e Turismo, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, os investimentos somavam R$ 9 bilhões. "Algumas dessas empresa já tinham até um pouco de terra, mas veio a decisão da AGU e os investimentos tiveram de ser suspensos. Eram projetos já estudados há pelo menos dois anos e não podemos perdê-los", disse.
Na Bahia, segundo o secretário estadual de Agricultura, Eduardo Salles, um grupo europeu de papel e celulose deixou de investir € 3 bilhões por causa da restrição. "Isso é um absurdo e o governo precisa rever essa decisão, que é prejudicial ao setor."
"O setor compreende a preocupação do governo em não ceder terras a estrangeiros, mas os investimentos em florestas e na indústria de celulose gerariam milhares de empregos", disse o diretor-executivo da Abraf, Cesar Augusto dos Reis.
O diretor florestal da Fibria, Aires Galhardo, afirmou que acredita na revisão da decisão pelo governo. "Esperamos que essa proibição seja revista com regras claras para cada setor produtivo. Com isso, nosso objetivo é que não haja mais casos de impedimentos a investimentos como os ocorridos agora", disse.
(Por Venceslau Borlina Filho, Folha de S. Paulo, 20/10/2011)