Durante o evento “Sextas Ambientais: ambiente e sociedade” realizado na sexta-feira (14), na Área de Proteção Ambiental (APA) Cairuçú, unidade de conservação sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a professora Dra. Paula Sarcinelli, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apresentou os resultados da pesquisa sobre a contaminação das comunidades pesqueiras por agrotóxicos.
O evento é um ciclo de conversas que busca incentivar o envolvimento da sociedade nos desafios ambientais da atualidade e tem sido realizado mensalmente no auditório do ICMBio, em Paraty.
A pesquisa intitulada "Bifenilas policloradas e pesticidas organoclorados persistentes em comunidades pesqueiras no estado do Rio de Janeiro" avalia a presença de resíduos de agrotóxicos em tainhas e corvinas e, ainda, no sangue dos pescadores das comunidades da Ilha do Araújo e da Baía de Guanabara.
O estudo verificou conforme esperado, os índices das amostras da Baía de Guanabara são superiores às da Ilha do Araújo, pois há mais rios que desaguam na Baía vindo de áreas de produção agrícola. De acordo com a pesquisadora Paula Sarcinelli, o pescado das baías de Paraty e da Guanabara pode continuar a ser consumido pela população.
“As quantidades de agentes químicos encontrados ainda são consideradas toleráveis. A importância deste estudo está na conscientização da sociedade para os impactos do uso de agrotóxicos na produção de alimentos, principalmente, no que se refere à contaminação difusa do ambiente, que também chega até os peixes”, destaca.
As quantidades encontradas nas amostras da Ilha do Araújo foram consideradas residuais, estando dentro dos níveis tolerados.
Porém, o estudo serve como alerta para os seguintes fatos: a contaminação das águas por agrotóxicos afeta a cadeia alimentar marinha, atingindo as pessoas; através da cadeia alimentar, as concentrações de agrotóxicos tendem a aumentar nas espécies, sobretudo nas carnívoras, pelo efeito da bioacumulação; os principais químicos encontrados nos peixes são o Endosulfan e o Dicofenol, o primeiro proibido em países desenvolvidos, onde continua a ser produzido e exportado para o Brasil e o segundo é produzido a partir da molécula do DDT, que foi proibido mundialmente nos anos 80.
Agrotóxicos
Segundo estudos, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, substâncias químicas de extrema persistência no ambiente e no organismo. Estima-se que apenas 0,1% do agrotóxico utilizado permanece no alvo, enquanto 99,9% do conteúdo é dispersado no ambiente, gerando contaminação difusa do solo, da atmosfera, da água, da fauna e das pessoas. A contaminação provocada pelo uso de agrotóxicos é global, pois pode ser levada para áreas distantes do planeta por meio da atmosfera e das águas.
A principal forma de contaminação das pessoas por agrotóxicos ocorre de forma indireta, pela alimentação, entretanto, quem manuseia o produto ainda está exposto à contaminação direta.
Nos seres humanos, a contaminação por agrotóxicos afeta o sistema nervoso, reprodutivo e imunológico, atingindo o feto por meio da placenta e os recém-nascidos pelo leite materno. Os sintomas agudos da contaminação direta são os mais conhecidos, mas existem poucos estudos sobre os efeitos crônicos causados pela exposição prolongada a níveis residuais dos agrotóxicos.
(Ascom ICMBio, 19/10/2011)