A proposta de criação de uma Unidade de Conservação no trecho Vitória-Trindade, protocolada em dezembro de 2010, no Ministério do Meio Ambiente, em Brasília, foi aceita. A informação é que vários passos para a criação da área já foram cumpridos e a idéia é inserir a unidade na categoria de Reserva da Biosfera.
A proposta foi apresentada por André Ruschi, biólogo e diretor da Estação Biológica Marinha Ruschi, em Santa Cruz, norte do Estado. A idéia é a criação de um mosaico de unidades, prevendo-se inclusive explorações minerais.
A área, descoberta nos anos 50 pela National Geographic Society, tem papel fundamental na preservação do planeta, visto que as algas calcáreas agem positivamente no resfriamento, superando em várias vezes o volume de fixação de CO² promovido por toda a floresta amazônica e são encontradas no local.
Entre os ambientalistas, a proposta é classificada como um sonho possível de biólogos, oceanógrafos, geógrafos, geólogos e representantes da sociedade civil organizada. A informação é que as características da região são elementos fundamentais para as pesquisas atuais.
Ao todo, a área da cordilheira cobre mais de 400.000 km2, sendo em montanhas, cerca de 130.000 km2, atingindo distância de cerca de 1.400 km da costa brasileira.
A região, segundo a proposta, é a verdadeira fronteira climática entre o Norte e o Sul do Brasil. Ao todo, o arquipélago de Trindade está a 1.600 km de Vitória e a defesa de André Ruschi é que, se criada a UC, além do País e do mundo, serão beneficiados inclusive os municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Fundão, Guarapari e Aracruz, entre outros do litoral capixaba.
Esta cordilheira submarina, associada aos movimentos da Corrente do Brasil, fluxo do Rio Doce e variações estacionais, provoca diversos fenômenos físicos e biológicos, caracterizando região submersa rica de relevos, vales, abismos, fendas, bancos de algas, área de reprodução de inúmeras espécies de peixes e crustáceos de importância econômica, ecossistemas de altíssima biodiversidade, já estando assinaladas as maiores taxas de biodiversidade de peixes, algas e corais zoantídeos do País.
Entre Vitória e Trindade, afirmam os especialistas, é possível assinalar pelo menos uns 10 locais equivalentes a Abrolhos em riqueza de espécies e beleza submarina quase que totalmente desconhecidos da ciência.
O estudo sobre a região diz ainda que a importância da Ilha de Trindade para a ciência mundial é enorme, pois se trata de situação similar às Ilhas Galápagos, porém localizada no oceano Atlântico, sendo portanto fundamental para a compreensão dos elos evolutivos da vida na parte leste do continente sul-americano, em função do seu período de origem geológica.
A importância da criação da UC se dá, sobretudo, pela necessidade de impedir a degradação na região, que, segundo o estudo, passa por um massacre continuado, devido à inserção de cabras e animais domésticos na ilha, assim como incêndios. A criação da UC também amplia a chance de estudos científicos na região, o estabelecimento de normas de segurança e a retirada de animais exóticos da ilha.
Tombamento
Em janeiro deste ano, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou provisoriamente a Ilha de Trindade. A medida menciona o processo de tombamento em tramitação desde 2007 e reconhece o valor histórico e paisagístico da ilha. Com isso, toda intervenção na Ilha de Trindade terá que passar pela avaliação do instituto.
A ilha, considerada um marco natural no Atlântico, é a mais distante e oriental porção do território nacional em águas oceânicas, o que lhe confere relevante valor simbólico. A excepcionalidade paisagística do local reside na singular formação geológica, resquício do cone de um grande vulcão submarino.
Com a proteção federal, fica, portanto, reconhecido o excepcional valor histórico e paisagístico da ilha, a ser inscrita nos Livros do Tombo Histórico e do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, após ser submetida ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.
Estudos indicam que a ilha surgiu há aproximadamente três milhões de anos, da zona abissal do Atlântico Sul, por atividades vulcânicas. As profundidades oceânicas do seu redor atingem 5.800 metros.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 18/10/2011)