Agência Europeia do Meio Ambiente afirma que crescimento da liberação de gases do efeito estufa se deve à recuperação econômica, mas países que não estão conseguindo cumprir seus compromissos domésticos ameaçam meta do bloco
Como já se suspeitava, o resultado das oscilações econômicas dos últimos anos tem afetado diretamente as emissões de dióxido de carbono da União Europeia. Na última semana, a Agência Europeia do Meio Ambiente (EEA) divulgou dados preliminares sobre a liberação de CO2 do bloco em 2010, que apontam que as emissões subiram 2,4% no último ano.
Agora, com a dúvida sobre a continuidade ou não do Protocolo de Quioto, resta esperar que a certeza na redução das emissões não tenha que vir de outra recessão financeira.
Segundo as informações prévias da EEA, o aumento na liberação de carbono no último ano segue uma queda, que ocorreu entre 2008 e 2009 devido à crise econômica, de 7,1% nas emissões europeias e de 6,9% nas emissões dos países europeus que ratificaram o Protocolo de Quioto. Nesse período, o produto interno bruto (PIB) da região diminuiu 4%.
Por isso, a recuperação financeira, aliada a um inverno intenso – que exigiu mais o uso de energia elétrica para o aquecimento – gerou o crescimento nas emissões. Mas a EEA declarou que o bloco tem chances de atingir sua meta de redução de emissões de 20% até 2020 em relação aos níveis de 1990.
“A UE continua a caminho de atingir sua meta do Protocolo de Quioto para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, de acordo com as primeiras estimativas”, disse a EEA. No entanto, a agência alertou que sem a colaboração de todos os países, nem mesmo as medidas adicionais planejadas serão suficientes para atingir o compromisso assinado sob Quioto.
Levando em consideração as 27 nações da União Europeia, as emissões estão atualmente 15,5% abaixo dos níveis de 1990, enquanto em 2009 o índice se encontrava 17,3% menor do que no início da década de 90. Durante as duas décadas, o crescimento econômico do bloco foi de 41%.
Já considerando os 15 países europeus que firmaram o Protocolo, a liberação de CO2 está 10,7% menor do que os níveis de 1990, e ultrapassa a meta parcial para 2008-2012, que é de 8% na diminuição das emissões.
De acordo com Jacqueline McGlade, diretora executiva da EEA, o que ocasionou essa diminuição nas emissões foram as várias políticas criadas para esse fim, como o estímulo às energias renováveis, o desenvolvimento de mecanismos de eficiência energética e o empenho para reduzir a poluição da água causada pela agricultura.
“Muitas políticas diferentes tem tido um papel ativo em reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Ao lado da energia renovável e da eficiência energética, esforços para reduzir a poluição da água pela agricultura também levaram a reduções nas emissões. Essa experiência mostra que podemos reduzir mais as emissões se considerarmos os impactos climáticos de várias políticas mais sistematicamente”, explicou McGlade.
Mas nem todas as nações da União Europeia estão conseguindo mitigar suas emissões. Enquanto alguns países como a Espanha, a Grécia e a Irlanda tiveram sua liberação de carbono reduzida por causa das crises financeiras que enfrentam, outros, como a Áustria, a Itália e Luxemburgo não estão buscando diminuir o CO2.
Para 2020, espera-se que 11 países, entre eles a França, a Polônia, Portugal e o Reino Unido, consigam atingir suas metas nacionais. Outras sete nações, como a Alemanha, a Áustria e a Finlândia, terão que se esforçar mais para alcançarem seus objetivos domésticos. No último ano, os maiores aumentos nas emissões ocorreram na Alemanha, na Holanda, na Polônia e no Reino Unido, embora este último tenha reduzido suas emissões em 24,8% desde 1990.
“Perseguir nossos esforços para fazer da Europa uma sociedade de baixo carbono é o caminho a seguir. Isso estimulará a inovação tecnológica, induzirá o crescimento econômico e criará empregos, ao mesmo tempo que reduzirá mais emissões para que possamos atingir nossas metas climáticas e energéticas de 2020 e metas de longo prazo”, defendeu Connie Hedegaard, comissária climática da UE.
Mas apesar da Europa estar lutando para alcançar sua meta, a incerteza sobre o futuro de Quioto pode colocar em risco o progresso feito até agora para mitigar as emissões.
A grande questão que está gerando impasse entre países desenvolvidos e emergentes é se o ideal é estender o Protocolo apenas aos países ricos ou criar um novo compromisso que compreenda também as nações emergentes mais industrializadas, como a China, a Índia e o Brasil.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 14/10/2011)