Há um estado americano que tem conseguido escapar dos tempos magros da recessão iniciada em 2007 com o estouro da bolha imobiliária. Em Dakota do Norte, a taxa de desemprego é de 3,3% enquanto na esfera nacional beira os 10%. Ao contrário do resto do país, onde o mercado imobiliário continua deprimido, o preço dos imóveis segue em alta no estado. E, bem diferente das agruras federais, o orçamento estadual vive no azul.
Tudo graças ao velho petróleo – que abunda no subsolo – e novas das tecnologias de fracking que permitem trazê-lo para a superfície. Mas há quem diga que, além desse recurso natural, o boom de Dakota do Norte se deve também a uma instituição única nos EUA: um banco público.
O alvo de todas as atenções em Dakota do Norte é a Bakken Shale, uma formação rochosa subterrânea descoberta em 1951 e que guarda vastas quantidades de petróleo. Segundo o serviço geológico americano, usando tecnologia disponível em 2007 seria possível produzir de 3 a 4,3 bilhões de barris de petróleo na região.
Uma reportagem recente na revista The New Yorker citou estimativa do estado de que, com a tecnologia atual, a produção possa chegar a 11 bilhões de barris – o suficiente para abastecer os Estados Unidos por dois anos. Enquanto a comunidade geológica discute o potencial de produção do estado, Dakota do Norte recebe fluxo contínuo de migrantes em busca de trabalho e oportunidade.
O petróleo contido na Bakken Shale está preso entre duas camadas de xisto argiloso – rocha cuja falta de porosidade dificulta a extração. A técnica de fracking – perfuração horizontal via fraturamento hidráulico – é empregada desde a década de 40, mas foram melhoramentos recentes que permitiram usá-la para extrair óleo de formações como a Bakken.
A mesma tecnologia está no centro da controvérsia em torno da produção de gás natural nos estados de Nova York, Pensilvânia e outros, devido a impactos na qualidade da água dos lençóis freáticos. Em Dakota do Norte, há outro tipo de impacto, pois o gás natural também contido na formação é queimado em vez de capturado para comercialização ou para estocagem.
Isso por que, com o colapso dos preços graças à corrida do gás em outras regiões dos EUA, as empresas que exploram petróleo na região não consideram econômico aproveitar o gás.
Boom econômico devido a um recurso como o petróleo não é nada de novo, mas em Dakota do Norte há um efeito multiplicador – o Bank of North Dakota, o único banco público nos Estados Unidos. Fundado em 1919 para promover a agricultura, o comércio e a indústria do estado, o banco recebe em depósito todos os impostos e taxas coletados pelo governo estadual.
Os recursos são usados somente em Dakota do Norte na forma de empréstimos – com taxas mais baixas para pequenas empresas –, ajudando a manter negócios e empregos no estado. O banco é especialmente ativo na área de financiamento a estudantes. Atua também como banco central para as instituições financeiras comerciais que operam em Dakota do Norte, paga um dividendo anual ao cidadãos do estado e tem linhas especiais de financiamento para casos de desastres naturais na região.
Outros estados americanos tiveram bancos públicos no período colonial, mas com o avanço e desregulamentação dos bancos comerciais, o único que restou foi o de Dakota do Norte. Hoje governado pelos Republicanos, o estado se orgulha desta instituição que muitos nos EUA consideram “socialista”. Seu sucesso tem sido tanto que há projetos para criar bancos públicos em 13 outros estados. E um movimento iniciado por 11 entidades coloca os bancos públicos no centro da estratégia para “liberar a América do domínio de Wall Street”.
Enquanto bancos criados para atuar em prol do interesse público não são novidade no Brasil e em vários outros países, nos EUA – onde o setor bancário privado foi pivô da crise que jogou o país na recessão – eles começam a ser vistos como propulsores de um processo de democratização da economia.
O banco público de Dakota do Norte talvez não seja o principal responsável pelo sucesso do estado nos últimos anos, mas pelo menos tem ajudado a transformar os frutos da exploração de um recurso não renovável em bem-estar para os cidadãos.
(Por Flavia Pardini, Página 22, 07/10/2011)